Dailza Damas (1958 – )

Nasceu em 1958 no Paraná. Considerada uma das maiores nadadoras de provas de longo percurso do mundo. Dailza é nadadora de travessias, ou seja, longas distâncias no mar. Aprendeu a nadar aos 28 anos em uma escola curitibana. Segunda mulher a atravessar o Canal da Mancha em 1997, atravessou o Canal da Califórnia, Estados Unidos. Para realizar essa façanha de atravessar o Canal da Califórnia o/a nadadoror/a experiente gasta em torno de 14 horas. Dailza é a primeira mulher sul-americana a fazer esta trajetória.
Explorarando os limites do corpo e sem medo para vencer obstáculos Dailza Damas tem um extenso curriculo de façanhas bem sucedidas: atravessou duas vezes o Canal da Mancha (entre Inglaterra e França), uma vez o estreito de Gilbratar (que separa a África da Europa), atravessou a Bacia de Santos (Laje de Santos até a ponta da Praia), local de muita correnteza, águas-vivas e tubarões. Também contornou a Ilha de Manhattan (USA); Ilha da Trindade (Costa do Estado do Espírito Santo); Atol das Rocas (Ilhas que pertencem ao Estado do Rio Grande do Norte); e ainda foi a única mulher a desafiar as Cataratas do Iguaçu (quedas de água do Rio Iguaçu – na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná). Em 2001 fez a travessia do lago Titicara na Bolívia, vencendo com braçadas e muita força de vontade a água gelada, em torno de 7 graus.
Dailza, no período de sua vida dedicado ao esporte vem convivendo com perigos como o forte frio, ventos, águas-vivas, tubarões e forte correnteza. É o tipo de atividade que envolve planejamento, preparo físico e psicológico, e isso ela tem de sobra.
 

Doracy Vieira Gervásio (1938 – )

Doracy Vieira Gervásio – Nasceu em Barra do Jucu, Vila Velha (ES), em 30 de novembro de 1938. Casada com Domingos Pereira dos Santos é mãe de 09 filhos(as). Trabalhou durante vinte e oito anos como servente de escola, para ajudar no sustento dos filhos, mas isso nunca impediu que ela vivesse sua grande paixão, desde criança: o Congo.
Um dos símbolos da cultura capixaba, o Congo tem uma forte presença em Barra do Jucu onde Dona Dorinha, como é conhecida, já participou das mais tradicionais bandas do lugar, inclusive como tocadora de chocalhos.
Desde 1995, ocupa com ineditismo o nobre lugar de guardiã dos tambores da Banda do Congo Tambores de Jacarenema, da qual foi uma das fundadoras. Durante os festejos é ela quem orgulhosamente caminha pelas ruas da cidade carregando o standard da banda, que todos os anos arrasta uma multidão de pessoas.

 

Cnéa Cimini Moreira de Oliveira (? – 2008)

A carioca Cnéa Cimini Moreira de Oliveira entrou para história por ser a primeira mulher no Brasil, e a segunda no mundo, a ocupar o cargo de ministra em Tribunal Superior. Foi nomeada pelo então presidente José Sarney, em dezembro de 1990, para o Tribunal Superior do Trabalho (TST). Marco importante para a história das mulheres brasileiras que ao ultrapassar essa barreira foram conquistando outros espaços nos cenários jurídicos. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) foi o primeiro no Brasil a ter uma mulher em seu corpo de ministros. Em 2008, o único Tribunal superior que continua fechado à entrada de mulheres é o Superior Tribunal Militar; todos os seus quinze membros são homens.
Cnéa Moreira atuou como ministra do Tribunal Superior do Trabalho, durante dez anos. Pioneira, defendia a maior participação da mulher na magistratura brasileira assim como no mercado de trabalho. Sua vida foi dedicada a Justiça.
Faleceu a 22 de abril de 2008 no Rio de Janeiro.

 

Celeida Tostes (1929 – 1995)

Nasceu no Rio de Janeiro, em 16 de abril de 1929. Perdeu a mãe quando tinha um ano de idade. Passou a infância com os avôs em uma fazenda em Cachoeira de Macuco – interior do estado do Rio de Janeiro. Celeida viveu os prazeres, que a liberdade da vida em uma fazenda pode proporcionar. Os odores do campo, os frutos, os banhos de açude. O barro foi um material de sua infância e seria no futuro objeto de seu trabalho.
Começa a vida profissional aos 17 anos, como datilógrafa em uma empresa no Rio de Janeiro. Em 1951 entra para a Escola Nacional de Belas Artes e em 1957, concluí o curso de Professora de Desenho e de Didática Geral e Especial na Faculdade de Filosofia, ambos no Rio de Janeiro. No Final da década de 50, estudou nas Universidades de Southern e de Highlands, na Califórnia e Novo México, respectivamente, nos Estados Unidos.
Sempre preocupada com sua formação e interessada no aprendizado de novas técnicas em 1973, fez Curso de Antropologia Cultural na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e dois anos depois, estagiou no Cardiff College of Art na Inglaterra. Em 1976, exerceu atividades paralelas sendo designada para o Departamento de Cultura do Município e nos anos de 1978 e 1979, foi diretora substituta na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, ambos no Rio de Janeiro.
Durante quinze anos, entre 1980 a 1995, coordenou o Projeto de Formação de Centros de Cerâmica Utilitária nas Comunidades da Periferia Urbana Morro do Chapéu Mangueira no Rio de Janeiro. Em 1984 trabalhou na produção da cenografia do filme Quilombo de Cacá Deigues. Em 1986, foi Grande Homenageada na Primeira Bienal do Barro em Porto Rico.
Celeida Tostes provocou uma verdadeira revolução nos trabalhos com cerâmica no Brasil. Senhora de técnicas e idéias peculiares, encantou o público com seu trabalho Ritual de passagem onde mistura barro e performance. A exposição Arte do fogo, do sal e da paixão, elaborada após sua morte, apresentou um panorama geral de sua obra e mexeu com a sensibilidade de todos. Durante sua trajetória artística, explorou temas de caráter antropológico e arqueológico, assim como temas vinculados ao feminino. Foi pioneira no trabalho individual, mas não descuidou da ação pedagógica; e por isto é considerada mestra da geração dos anos de 1980; também era famosa por seu bom humor e pelo espírito agregador, sempre conseguia acolher um aluno, mesmo quando aparentemente não era possível.
Artista de muitas idéias e de paixão pela escultura, sua arte esteve sempre voltada para a simbologia da vida. Algumas figuras emblemáticas norteiam a obra de Celeida, como o ovo, o falo, a vagina, rodas feitas de barro. Estas figuras eram fartamente instrumentalizadas pela artista em suas produções. O ovo, por exemplo, utilizado como figura síntese do ciclo da vida e esteve muito presente na obra da escultora. Através da argila materializava suas emoções e inquietações. Na expressão de sua arte, recupera formas primitivas e recheadas de simbolismo; muito de sua obra gira em torna da eternidade do feminino.
Celeida Tostes continuamente buscou aprimorar suas técnicas. Esteve sempre envolvida em espaços que permitisse adquirir novos conhecimentos e aplicar novas experiências. Trabalhava compulsivamente. Durante sua carreira, ganhou diversos prêmios, dentre eles: Prêmio no Salão Paranaense de Cerâmica (1980); Menção Especial e Prêmio no 1o. Salão Paulista de Artes Plásticas e Visuais. Nos anos de 1981 e 1982 Prêmio Especial no Salão Nacional de Artes Plásticas no Rio de Janeiro. No ano de 1984 foi convidada no evento Arquitetura da Terra no Centro Georges Pompidou, França. Em 1987 participou do Encontro de Ceramistas Contemporâneos no Everson Museum, Nova York, Estados Unidos. Nos anos de 1990 participou da I Bienal Del Barro de América no Museu de Arte Contemporânea em Caracas, Venezuela.
Morreu no dia 3 de janeiro de 1995 no Rio de Janeiro, acometida por câncer de mama.

 

Cecília Lydia Podorolski Cooper (1933 – 2004)

Nasceu em 1933, no Rio de Janeiro, numa família de músicos. Sua mãe, Ella Podorolski, era pianista do teatro municipal e seu padrasto era o baixista Guilherme Damiano. Desde muito jovem envolveu-se com a música erudita. Foi solista em óperas apresentadas no Brasil e no exterior. Lecionou e dirigiu corais na UFRJ e PUC – RJ.
Morreu dia 5 de abril de 2004.
 

Carmem Lúcia Dantas (1945 – )

Carmem Lúcia Dantas nasceu no dia 27 de setembro de 1945, na cidade de Penedo(AL). Sua paixão pela preservação da memória e patrimônio histórico se manifestou desde a adolescência. Graduada em Museologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas aperfeiçoou-se em Planejamento Urbano e Patrimônio Cultural em Berlim /Alemanha.
Em 1978 assumiu a direção do Museu Theó Brandão e durante seus oito anos no cargo preocupou-se tanto em divulgar a cultura popular como em implantar em Alagoas uma consciência museológica. Na presidência da Fundação Teotônio Vilela incentivou atividades sociais e culturais, além de criar o Arquivo da Memória Popular de Alagoas e promover a obra literária e política do patrono da Casa. Foi também responsável pelo levantamento do Acervo Histórico e Artístico das cidades de Penedo e Marechal Deodoro.
Em 1999, assumiu a presidência do Conselho Estadual de Cultura, publicou livros na área do folclore – Carrapicho: cerâmica, arte – Alagoas – roteiro cultural e turístico e Aspectos da cultura popular de Alagoas – faz parte do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas da Associação Brasileira de Críticos de Arte e da Associação Brasileira de Museologia. Considerada uma mulher protagonista do seu tempo, seu nome está incluído no Dicionário de Folcloristas Brasileiros.

 

Bibi Vogel (1942 – 2004)

Sylvia Dulce Klener, mais conhecida por Bibi Vogel. Nasceu no Rio de Janeiro a 2 de novembro de 1942. Era filha de imigrantes judeus alemães, que vieram para o Brasil, após a 2ª Guerra Mundial, fugidos do nazismo alemão.
Atriz, cantora e compositora, modelo fotográfico e militava em defesa dos direitos das mulheres. São muitos os atributos desta mulher que lutava pela liberdade de escolha e expressão. Foi atuante fervorosa na segunda geração de feministas no Brasil.
Na adolescência o esporte era sua paixão tendo por preferência o vôlei. Era atleta do Centro Israelita Brasileiro – CIB, onde também teve sua estréia no palco do teatro amador que acontecia no centro. Seu primeiro trabalho profissional foi no Maison de France, com a peça O ovo, de Felicien Marceau. Neste período iniciou estudos na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Em tudo que se envolvia, dedicava-se com afinco e paixão.
Em 1965 casou-se com o norte-americano Bill Vogel, músico e professor de literatura e foi morar nos EUA com ele. Conheceu Sérgio Mendes, sendo convidada a integrar o grupo musical Sérgio Mendes & Brasil 66 e com ele, subiu ao palco do consagrado Carnegie Hall, em Nova Iorque.
Em 1968 voltou para o Rio de Janeiro, concluiu a Faculdade de Belas Artes e na seqüência, morando em São Paulo, fez um teste para modelo fotográfica para Editora Abril, sendo imediatamente contratada. Esteve nas capas de várias revistas de moda, sendo durante um ano a modelo mais fotografada do Brasil.
Esteve no elenco da primeira montagem do musical Hair, em 1969. Com o sucesso desta produção, entrou para o Teatro de Arena, contracenando com os grandes ícones do teatro brasileiro como, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Lima Duarte. Com a montagem da peça Zumbi, participou do 1º Festival Latino-Americano de Teatro, em Bueno Aires, no final dos anos 70, e foi nesta turnê que conheceu o ator, diretor e autor teatral, Alfredo Zemma, com quem se casaria tempos depois. Em 1971 participou do Festival Mundial de Teatro, em Nancy-França.
Considerada um dos mais belos rostos das telenovelas no final dos anos de 1960 e toda a década de 70. Na TV foi apresentadora do programa Concertos para juventude; participou de várias novelas: “Nino, o italianinho” e “A fábrica” (1971), ambas da extinta TV Tupi; Os ossos do Barão (1973); O espigão (1974); Bravo (1975); Espelho mágico (1977); e seu último trabalho, no SBT, foi na novela Chiquititas (1997).
No cinema participou dos filmes: Pança de valente; Bebel, garota propaganda; Anuska, manequim e mulher, todos lançados no ano de 1968; Meu nome é Tonho (1969); Elas (1970); Diabólicos herdeiros (1971); Motel e O homem célebre, ambos em 1974; O pai do povo (1976); Ipanema adeus (1975); Deixa, amorzinho…deixa (1978); A morte transparente (1979).
Em 1976 mudou-se com, seu marido, Alfredo Zemma, para Bueno Aires. Em março de 1979 nasceu sua única filha Mayra. Em seguida engaja-se no moviemento feminista, período em que iniciou sua militância na luta em defesa da amamentação defendendo o direito da mulher em escolher por amamentar ou não seu bebê. É com esta bandeira que no ano de 1980, junto com outras feministas funda o grupo de mães Amigas do Peito. Após 1985 passa a trabalhar em Bueno Aires como voluntária na Asamblea Permanente por los Derechos Humanos. Fez parte do 5º Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe, onde lhe coube a responsabilidade de organizar a primeira oficina sobre a amamentação e o feminismo. Na década de 1990 participou dos tres primeiros simpósios argentinos de amamentação, esteve em Mar Del Plata-Argentina do Encontro Preparatório para Beijing e, em, 1996 apresentou um trabalho no Congresso em Bangkok-Tailândia.
Bibi Vogel era uma mulher do mundo e não tinha medo de desafios. Quando morou na Europa, fez diversos trabalhos dentre eles lanterninha de cinema na Inglaterra e trabalhou em uma fábrica de balas na Holanda. Aprendeu vários idiomas, inglês, francês, espanhol e alemão.
Era uma apaixonada pela vida, fazia diversas atividades ao mesmo tempo. Mulher incansável, lutadora. Faleceu em uma manhã de sábado em Bueno Aires, Argentina no dia 3 de abril de 2004, acometida por um câncer de estômago.

 

Beata Mocinha (final do século XIX e início do século XX)

Há controvérsia quanto à cidade de origem, de Joana Tertulina de Jesus, mais conhecida por Beata Mocinha. Alguns dizem ter sido Quixadá outros Jaguaribe, ambos municípios do Ceará, no final do século XIX .
Após ter sido adotada por João Mota e sua esposa, conhecida por, Dona Professora (nome atribuído a ela por ter sido a primeira a montar uma escola, paga pelo governo, naquela região), foi conduzida a Juazeiro. Poucos anos após a adoção, Dona Professora teria sido transferida a Quixadá. Tendo em vista a fragilidade da saúde da jovem Joana Tertulina, que nos seus 11 anos vivia tossindo e sofrendo hemoptises, Dona Professora ressentia-se dos riscos que a viagem causaria a frágil saúde da jovem adotada. O casal submeteu o impasse ao parecer do Padre Cícero, que prontamente dirimiu a questão, sugerindo ao casal deixar a jovem sob seus cuidados.
A índole conciliadora, da jovem Joana e seus dotes administrativos, a conduziria, em futuro próximo ao gerenciamento da casa de padre Cícero. Segundo o pároco Azarias Sobreira, durante decênios seria como um “..anjo de boa inspiração…” para o padre Cícero, em horas das mais aflitivas de sua existência. Era ela que conseguia que o padre tomasse os medicamentos prescritos pelo médico, convencê-lo a fazer as parcas refeições de cada dia, nos momentos críticos de sua saúde, era ela também, que impedia que a multidão, chegada de terras distantes e desejos de um contato com o padre Cícero entrasse de roldão casa adentro – eram homens e mulheres de todo o Nordeste. Joana, com sua capacidade de coordenar, sua voz firme e poder de comando, foi providencial na organização da vida econômica e administrativa do lar de Padre Cícero, assim como exímia zeladora de sua saúde.
O codinome Beata tem a ver com a realidade da época e da região. Nesse período não existia Congregação Religiosa de mulheres, alguns padres, naquela região, conferiam mantos, véus e hábitos de monja a jovens que desejassem consagrar a Deus a sua virgindade. E a essas moças eram dadas a qualificação de Beatas, através de cerimônia pública e vestidura de hábito. A jovem Joana Tertulina de Jesus, ainda jovem, passou a fazer parte desse seleto grupo.

 

Mãe Beata de Iemanjá (1931 – )

Beatriz Moreira Costa mais conhecida como Mãe Beata de Iemanjá, nasceu em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira de Paraguaçu, Recôncavo Baiano. Na década de 1940, a menina Beata (como é conhecida desde a infância) muda-se para a cidade de Salvador, ficando aos cuidados de sua tia Felicíssima e seu marido Anísio Agra Pereira (Anísio de Logum Ede, babalorixá).
Casa-se com Apolinário Costa, com quem teve quatro filhos (Ivete, Maria das Dores, Adailton e Aderbal). Em 1969, Beata separa-se do marido e migra para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida. Para promover o sustento de sua família Beata exerceu várias atividades como empregada doméstica, costureira, manicure, cabeleireira, pintora e artesã. Trabalhava como figurante na Rede Globo de televisão, quando a empresa descobriu seu grande talento como costureira, função na qual foi contratada até se aposentar.
Alguns nomes como, Mãe Regina Bambochê e Tia Davina, tornaram-se referenciais para a vida, a luta, a cultura e a religiosidade dos afro-brasileiros, e mãe Beata figura entre esses expoentes no universo fluminense. Manteve contato freqüente e atuou em várias comunidades de terreiro no Rio de Janeiro. Na década de 1980, Beata foi inciada no terreiro de Mãe Olga do Alaketo, uma das figuras mais expressivas do candomblé no Brasil. Na mesma década abre o Terreiro Ilê Omi Ojú Arô (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi), localizado em Miguel Couto, na Baixada Fluminense, onde ocupa o cargo de Ialorixá.
Mãe Beata participa intensamente de movimentos pela valorização da religiosidade afro-brasileira e luta pela cidadania do povo negro. O espaço da Casa de Candomblé passa a ser utilizado como referência da resistência da religião, cidadania, cultura e dignidade da população afro brasileira, com foco na defesa dos direitos das mulheres negras, investindo no intercâmbio das mulheres dos terreiros com o movimento feminista. Como escritora retrata a realidade da tradição das Comunidades de Terreiro nas obras Caroço de Dendê, Sabedoria dos Terreiros, Tradição e Religiosidade, O livro da saúde das mulheres negras e As histórias que minha avó contava.
Mãe Beata de Iemanjá recebeu no dia 07 de março, o diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz de 2007, do Senado Federal, em sessão solene do Congresso Nacional. Essa sacerdotisa, reconhecida pela liderança e capacidade de articulação é, atualmente presidente de honra do grupo de mulheres negras Criola.

 

Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (1908 – )

Nasceu no Paraná em 1908. Filha de pai brasileiro e mãe alemã.
Casou-se muito jovem, no Brasil no início dos anos trinta, com Johan Von Tess (também descendente de alemão). Desquitando-se poucos anos depois e, para fugir um pouco do preconceito com que era tratada uma mulher separada no Brasil daquela época, mudou-se para Alemanha, indo morar na casa de sua tia; levou consigo o filho Eduardo Tess. Por falar fluentemente o alemão, inglês e francês, conseguiu nomeação para o Consulado Brasileiro em Hamburgo, Alemanha. Entre suas atribuições era encarregada da seção de vistos.
Aracy foi a segunda mulher do escritor João Guimarães Rosa. Conheceram-se no final da década de 1930, no Consulado Brasileiro onde trabalhava, quando Guimarães Rosa chegou para assumir o cargo de cônsul adjunto. Conheceram-se e apaixonaram-se. No final da década de 1930 casam-se por procuração no México. A lei brasileira ainda não permitia o casamento de dois desquitados.
Para além de ter sido a companheira de um dos mais conceituados escritores brasileiros, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa teve trajetória, conquistas e méritos próprios para ser reconhecida e homenageada.
Como numa narrativa ficcional, seu passado, sua história é repleta de aventuras, perigos e romance. Única mulher a ter seu nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel. Esta honra é concedida pelo governo Israelense a pessoas que colocara suas vidas e por que não dizer, também a de seus familiares, em perigo, para ajudar judeus. O governo de Israel passou a partir da década de 1960 a homenagear pessoas que ajudaram a salvar os judeus diante do anti-semitismo; e em reconhecimento é plantada uma árvore in Memoriam, o que dá origem ao nome do lugar, também chamado de Alameda dos Justos. O/a escolhido/a recebe também uma medalha, feita especialmente para ele/a, um certificado de honra e seu nome cravado na Parede de Honra no Jardim dos Justos em Yad Vashem. A cerimônia é realizada em Israel, ou no país de residência do/a homenagiado/a com a participação dos representantes diplomáticos.
Sendo o único nome de uma funcionária consular e não de embaixador ou cônsul, Aracy recebeu esta grande honra no ano de 1982, em reconhecimento por ter concedido centenas de vistos aos judeus, salvando-os da morte, apesar da proibição brasileira em relação a imigração deles no ano de 1937. Aracy tinha total entendimento e plena consciência dos riscos que corria, sobretudo porque não gozava das imunidades consulares, garantidas aos diplomatas; o que torna sua iniciativa ainda mais temerária.
Neste período, no Brasil, o presidente Getúlio Vargas investido de plenos poderes declara, em 1937, o Estado Novo. De caráter centralizador e autoritário, suprimiu a liberdade partidária e a independência entre os três poderes. Os governadores passaram a ser nomeados pelo presidente da república e os prefeitos pelos governadores; criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, um órgão de controle da mídia. É também neste período que Vargas projeta-se como o “pai dos pobres” e o “salvador da pátria”.
Recebia o apoio de boa parte da classe média, tendo em vista ter saído vitorioso, após embate contra o movimento conhecido por Aliancismo – corrente que defendia a revolução comunista no Brasil. Seus membros mais conhecidos eram Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes.
Vargas, perito em estratégia política, apresenta o documento, até hoje não se sabe se forjado ou não, intitulado “Plano Cahen”, em que afirmava que os socialistas planejavam uma revolução no Brasil, com o apoio do Partido Comunista da União Soviética.
Seu governo via com crescente hostilidade a presença da comunidade de judaica que começou a se instalar no Brasil no início do século XX. É, entretanto no Estado Novo que Vargas intensifica sua política anti-semita e assina uma Circular secreta, número 1.127, de 7 de junho de 1937, restringindo a entrada de judeus no Brasil. Outro fato atemorizante foi quando ele deporta para a Alemanha, em 1936, a militante comunista judaico-alemã, Olga Benário, mulher de Luis Carlos Prestes, que estava grávida, apesar dos protestos no Brasil.
Enquanto isto na Alemanha o governo Hitler implementava uma política de eliminação de alguns grupos sociais, conhecidos na época como os “indesejados”. Dentre eles os negros, ciganos, homossexuais e judeus. Milhares foram perseguidos e exterminados no que se conhece hoje por Holocausto.
É neste contexto histórico que Aracy corajosamente intervém em favor dos judeus e ousa colocar sua vida em risco e desobedecer à célebre Circular brasileira, que proibia a emissão de vistos para judeus. Com muita coragem e engenhosidade desafiou o arbítrio do Estado Novo e o nazismo.
Qual era sua estratégia? Como costumeiramente despachava com o Cônsul Geral ela misturava, entre os documentos para assinatura, os que concediam vistos para os judeus. O cônsul automaticamente assinava a “pilha de papéis” sem, contudo perceber que entre eles estavam os considerados “explosivos”, ou seja, aqueles que possibilitavam a vinda de judeus para o Brasil. Assim, no final da década de 1930, em Hamburgo, como funcionária do consulado brasileiro, a revelia da lei, ajudou judeus a entrar ilegalmente no Brasil, durante o Estado Novo de Vargas.
Não media esforços, desconsiderando o perigo que o nazismo representava. Dentre suas façanhas, também usou seu passaporte diplomático para conduzir pessoalmente diversos judeus até o navio, assegurando-lhes o embarque.
Em 1942, após navios brasileiros serem afundados por submarinos alemães, o Brasil declara guerra à Alemanha. Aracy e Guimarães Rosa voltaram para o Rio de Janeiro em decorrência dos acontecimentos. Enviuvou em 1967 e não se casou de novo.
Salvou judeus na Alemanha nazista, enfrentou as leis anti-semitas do Estado Novo e na década de 1960, morando na cidade do Rio de Janeiro, escondeu perseguidos políticos durante a ditadura militar.
Extremamente discreta, somente recentemente sua história veio à tona, muito por conta do empenho de alguns protegidos do passado. A história brasileira não contempla esta mulher, conhecida pela comunidade judaica por “Anjo de Hamburgo”.
Aracy Guimarães Rosa, funcionária consular que não gozava de todas as garantias diplomáticas, pode ser considerada protagonista de uma grande aventura entrecortada de perigos, coragem e recheada de muito amor e dignidade. A trajetória de vida de Dona Aracy, ou como seu companheiro Guimarães Rosa a chamava, Ara, revive personagens e imagens que fazem desta mulher um vulto histórico exemplar, digno de ser incluído urgentemente nos livros de história do Brasil.
Encontramos em um exemplar do livro Grande Sertão: Veredas – um dos grandes fenômenos da literatura brasileira – uma dedicatória do autor, João Guimarães Rosa: “A Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro”.