Não fui heroína, cuidei de heróis

Esta frase é da carioca e enfermeira militar Virgínia Maria Niemeyer Portocarrero. Ela foi uma das 67 candidatas aprovadas que formaram o primeiro grupo feminino de enfermagem do Exército do Brasil. Ao lado de suas companheiras, atuou como voluntária e fez parte do Destacamento Precursor da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Única enfermeira viva do grupo e com a sabedoria de seus 96 anos de idade, ela relembrou o cotidiano no front e o preconceito que sofreu, na ocasião, por ser uma mulher na guerra. Em 2013, Virgínia foi homenageada no Congresso Brasileiro de Enfermagem, no Rio de Janeiro. Mais do que merecida!

Acervo Memórias Negras e das Urnas

Depois de muitos diálogos e negociações, a Rede de Desenvolvimento Humano, com o apoio da Fundação Banco do Brasil e do Instituto Equit, está com o Acervo Memórias Negras e das Urnas estruturado, devidamente armazenado e digitalizado.

Este projeto faz parte do Programa Mulher 500 Anos Atrás Panos, da Rede de Desenvolvimento Humano, que tem como objetivo visibilizar a participação das mulheres na construção sociocultural e política do Brasil.  

Desde março de 2013, uma equipe composta por pesquisadoras (es), professoras (es), estagiárias da área de arquivologia, arquivistas formados e técnicos trabalhou com afinco para realização deste projeto. 

Acervo  Memórias Negras e das Urnas contempla quatro acervos: Acervo Lélia Gonzalez, Acervo Mulheres Negras do Brasil, Acervo Herdeiras das Sufragistas e Acervo Mulheres do Brasil. 

Para divulgação do Acervo  Memórias Negras e das Urnas foram realizadas quatro oficinas. A primeira no município de São João de Meriti/RJ, a segunda em Niterói/RJ, a terceira em Vassouras, na região do Vale do Paraíba, Rio de Janeiro, e a última em Três Rios/RJ.

Cidade gaúcha de colonização alemã elege a única prefeita negra do Estado

Mulher, negra e divorciada. Essa é Tânia Terezinha da Silva, primeira prefeita eleita em Dois Irmãos, cidade gaúcha de colonização alemã onde 91,57% da população é branca e os negros são menos de 2% – segundo o Censo de 2010, havia só 414 pessoas de cor ou raça negra entre os 27.572 residentes na cidade.

“O sol brilha para todos, e eu escolhi ficar no brilho do sol, não ficar na sombra”, diz ela, que é filiada ao PMDB desde 1995 e foi candidata pela coligação composta ainda pelo PP e pelo PTB. “Foi uma campanha dura, não foi fácil”, afirmou à Folha.

A reportagem é de Rodolfo Lucena e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 08-11-2012.

“Tive de romper paradigmas. A cor da pele foi um: por ser uma cidade germânica, talvez quem não more lá dificilmente acreditaria que tivesse uma pessoa de cor negra candidata a prefeita. Também a situação de família, pois para quem é católico ou evangélico pesa muito essa questão de família.”

Mesmo assim, diz: “Não posso falar da cidade de Dois Irmãos como preconceituosa. Ela acreditou no meu trabalho enquanto pessoa, independentemente da cor”.

Ela venceu na política local apesar de ser uma “estrangeira”. Nascida em Novo Hamburgo (RS), começou a trabalhar em Dois Irmãosem 1991, depois de passar em primeiro lugar em um concurso de técnica em enfermagem.

Acabou se mudando para lá três anos depois: “Quando cheguei a Dois Irmãos o município tinha cerca de 9.000 habitantes. Quando chega alguém todo mundo olha desconfiado porque não sabe quem é a pessoa. Mas isso por ser uma cidade pequena.”

Como técnica em enfermagem, atuou no SUS, visitava os bairros, conhecia cada comunidade. A carreira política começou com a eleição a vereadora em 1996. “Hoje estou na minha terceira legislatura. Em 2008 fui a mais votada, com 2.055 votos numa comunidade de 16 mil eleitores.” Agora os votos se multiplicaram: única negra entre as 35 prefeitas eleitas no Rio Grande do Sul, que tem 497 municípios, Tânia recebeu 9.450 votos (51,67%).

Aos 49 anos, a prefeita eleita tem um casal de filhos –Pablo, 24, e Hohana, 20 – e não descuida da aparência: hoje exibe os cabelos trançados em vistosos dreadlocks. “Já tive cabelo curto, encaracolado, agora faz dois anos que eu uso tranças. Para fazer dá trabalho. Em compensação, para manter, é maravilhoso”.

Campanha quanto vale seu voto?

Com o objetivo de estimular um debate mais amplo sobredireitos humanos nas eleições de 2012, um conjunto de organizações feministas brasileiras elaborou a campanha QuantoVale Seu Voto?, com a produção de vídeos, spots de rádio e análises que debatem temas como racismo, homofobia, violência contra a mulher, acesso àinformação, Estado laico, educação, transporte, moradia e democratização da comunicação. Uma das estratégias da campanha foi a realização devídeos  que retratam de forma divertida, irreverente e bastante didática situações de opressão e soluções para problemas enfrentados na nossa sociedade. Contamos com a colaboração de importantescartunistas do país, dentre @s quais estão André Dahmer, Carlos Latuff, JoãoLin e Morgana Mastrianni.

Para chegar inclusive nos lugares onde TV e internet são pouco ou nada acessíveis, foram produzidos spots de rádio distribuídos paraemissoras comunitárias, públicas e comerciais de todo o país.

No site da campanha também estão disponíveis guias, estudos e estatísticas muito interessantes sobre as eleições desse ano. Você sabia, por exemplo, que  na faixa etária de 18 a 20 anos as candidatas mulheres são maioria? E que, pela primeira vez, as mulheres representammais de 30% das candidaturas gerais?  É oque mostra o levantamento inédito realizado pela cientista política econsultora do Cfemea Patrícia Rangel.

Todo esse conteúdo é distribuído livremente sob a licença Creative Commons, para baixar, compartilhar e reproduzir sem fins lucrativos. Basta acessar o site www.quantovaleseuvoto.org.br, apáginahttp://www.facebook.com/QuantoValeSeuVotoou o canal http://www.youtube.com/quantovaleseuvoto.

Essa Campanha érealizada por um conjunto de organizações feministas brasileiras – Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), Coletivo Leila Diniz, Cunhã Coletivo Feminista, Geledés, Instituto Patrícia Galvão, Rede de Desenvolimento Humano (Redeh) e SOS Corpo – com o apoio do Fundo para a Igualdade de Gênero da ONU Mulheres e do Ministério de Relações Exteriores da Holanda.

Camila Maria da Conceição – intérprete negra do século XIX

Camila Maria da Conceição, negra, carioca e intérprete de óperas nasceu em 02 de janeiro de 1873 – já na lei do Ventre Livre. Nem por isso se livrou de inúmeros preconceitos e atitudes racistas. Com muita determinação enfrentou os obstáculos impostos aos seus sonhos. Desde cedo, demonstrava um grande dom musical e aos 17 anos ingressou no Instituto Nacional de Música, atual Escola de Música da UFRJ. No início do século XX, Camila já se apresentava em concertos musicais e tornou-se professora, formando grandes intérpretes da nossa história, como: Carmen Gomes, Marietta Magalhães Castro, Luiza Ginella, Luiza Paranhos, Ondina Villas Boas, dentre outras.

Uma gigante chamada Antônia Melo

Está disponível no Portal Mulher 500 uma reportagem de autoria de Eliane Brum sobre a trajetória de luta de Antônia Melo – uma mulher destemida, guerreira, uma mulher da floresta e defensora da Amazônia. Sua batalha contra a hidrelétrica de Belo Monte já dura anos e, nesta reportagem, as leitoras irão se identificar com esta “gigante chamada Antônia Melo”.

Joaquina Maria da Conceição Lapa (séculos XVIII-XIX)

Joaquina Maria da Conceição Lapa, conhecida como Lapinha, natural de Minas Gerais, foi uma das grandes intérpretes negras brasileiras do final do século XVIII. Seu talento foi reconhecido internacionalmente, apresentando-se em grandes teatros da cidade de Lisboa, Portugal. Considerada, por alguns estudiosos, uma pioneira na atividade musical feminina no Brasil.

Para não mais esquecer

“Para não mais esquecer” é um excelente artigo escrito pela assistente social e ex-Ministra da SEPPIR, Matilde Ribeiro, sobretudo é um alerta sobre o racismo ainda arraigado na sociedade brasileira. 

Abaixo: 

Para não mais esquecer!

As datas assim como as leis padecem de uma espera e uma historicidade para sua penetração na sociedade. Umas “pegam” outras não. Explico-me melhor, tem datas e leis que passam a fazer parte do cotidiano das pessoas, passam a ser visíveis como é o caso do Dia Internacional da Mulher (8 de março) e da Lei Maria da Penha (que pune a violência cometida contra as mulheres) ambas com importante papel para o empoderamento das mulheres. Vale dizer que para essas o efeito não foi imediato, necessitou de grande empenho do movimento feminista e de outras instituições, inclusive as públicas.

No campo do combate ao racismo vale citar o Dia Internacional contra a Discriminação Racial (21 de Março) e a Lei 10.639 (que obriga o ensino da historia da África). Essas ainda precisam “pegar”. Embora os motivos para a invisibilidade sejam muitos, inclusive o racismo incutido nas mentes e atitudes no Brasil e no mundo, é importante mais uma vez investir em informações e reflexões.

O Dia Internacional contra a Discriminação Racial foi instituído pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU (por meio da Resolução 2142 de 26/12/1966). A motivação principal foi o fato ocorrido em 21 de março de 1960 no bairro de Shaperville, em Johanesburgo – África do Sul: houve um massacre onde 69 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas. A polícia provocou o massacre de Shaperville perante uma manifestação pacifica contra a Lei do Passe, que obrigava a população negra a andar com cartões de identificação que estabeleciam os limites entre os locais de acesso permitido e as zonas proibidas. É importante ainda destacar que a África do Sul naquele momento vivia um intenso apartheid, que só teve seu fim oficial em 1994, também após muita luta mundial contra esse regime nefasto.

Esses não são fatos isolados, pois o racismo e as situações de desrespeito e sujeição à violência e a morte são fatos cotidianos em todo planeta.

Citei a pouco, diante da realidade brasileira a Lei 10.639. Esta instituída pelo Governo Federal em 09 de janeiro de 2003 (um dos primeiros atos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva), ainda padece de esforços para sua implementação. Sua referencia é o ensino da Cultura Afrobrasileira e Africana nos setores públicos e privados do ensino Brasileiro.

Pois é, a sociedade brasileira e mundial vacila entre a manutenção das falácias históricas como a aptidão dos negros ao trabalho pesado, e, dos privilégios de poucos em detrimento de muitos como é o caso das qualificações e salários no mercado de trabalho, e, da possibilidade de avanços para a garantia do respeito aos direitos e a vida digna para todos. O movimento antirracismo brasileiro e internacional tem atuado incansavelmente para que a perspectiva vitoriosa seja a segunda.

Em 2004, foi aprovada pela ONU mais uma Resolução – “Democracia não combina com Racismo”, e com isso convoca os países a atuarem para a superação do racismo. Já é mais do que hora de reconhecermos as datas e leis que abrem caminhos para a democracia efetiva aqui e no mundo.

Nesse 21 de Março de 2012, a Secretaria Especial de Politica de Promoção da Igualdade Racial completa 9 (nove) anos, as ações para garantia de politicas publicas tem ocorrido nas ultimas décadas por parte das instituições publicas e privadas, mas ser ampliado o convencimento de que precisa de mais celeridade e investimento.

Também nesse ano ocorrerão eleições municipais. Há uma antiga pergunta que não quer calar: quantas/os serão as/os candidatas/os negras e negros? Ou até mesmo, como as formulações que apontam para a superação do racismo e o machismo estarão contempladas nos programas de governo? Quais os compromissos efetivos que as/os candidatas/os as Prefeituras e as Câmaras Municipais vão declarar em favor das negras e dos negros em suas campanhas?

É importante destacarmos a relevância do Dia Internacional contra a Discriminação Racial e da Lei 10.639, assim como dos diversos instrumentos que a sociedade brasileira tem a seu favor para fazer valer a igualdade, a justiça e os direitos sociais e raciais.

As datas, os fatos e as leis estão aí para nos lembrar de que é cotidiana nossa tarefa para a superação de preconceitos, discriminações e racismo. Não devemos ter duvida é um misto entre comemorar, refletir, formular, negociar e lutar.

Para não mais esquecer: Dia 21 de Março é o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. E, esse é um chamado para todas as sociedades, como um fortalecimento para a efetivação das democracias!

Matilde Ribeiro

Doutoranda em Serviço Social na PUC/SP e Ex-ministra da Igualdade Racial

Do 8 de março de 2012

“As mulheres têm sido chamadas Rainhas há muito tempo,Mas o reino dado a elas não merece ser comandado.”

O Dia Internacional da Mulher é hoje uma data com tão grande visibilidade que como disse uma amiga hoje, é quase feriado.

Da origem da data, há controvérsias: se foram as mulheres russas que em 1917 iniciaram uma greve que foi o estopim da revolução de 1917 ou se foram as operarias em Nova Iorque que teriam sido queimadas vivas quando faziam uma greve reivindicando redução na jornada de trabalho de dez horas/dia. E ainda uma imensidão de historias diversas sobre detalhes acerca do assunto.

Talvez estas controvérsias sejam em decorrência do que Virginia Wolf em seu belíssimo livro Um Teto Todo, publicado em 1928, seu fala dos muitos livros escritos sobre as mulheres escritos por homens encontrados das bibliotecas de Londres e nenhum escrito por uma mulher, nem pra falar de homens, nem pra falar sobre elas mesmas. Mas o fato é que, oficialmente, em 1910 no Congresso das Mulheres Socialista na Dinamarca, a comunista alemã Clara Zetkin propõe que se consagre o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher e as congressistas aprovam.

De lá até aqui, foram as lutas, as organizações das mulheres, o feminismo, que como situa Heleieth Saffioti assume uma perspectiva político-cientifica, cujo objetivo não consiste apenas em ampliar o acervo dos saberes, mas também criar mecanismos políticos para a construção da igualdade social entre homens e mulheres.

As feministas que se empenharam para assegurar que no calendário um dia fosse consagrado a pautar as mulheres, entre homenagens e reivindicações, denuncias que hoje, em tempo de emancipação feminina, persista ainda muito presente na vida das mulheres e na sociedade, a violência machista e suas manifestações, o elevado numero de mulheres em situação de pobreza e condições de vida indigna, a diferença numérica de mulheres ocupando cargos e postos de poder e decisão.

Como não se sensibilizar com noticia desta semana de uma avó, aqui no Brasil,  de mais de setenta anos que vive com um salário mínimo, que foi presa na cadeia de sua cidade por não pagar a pensão do neto? Como não desejar que a justiça seja exercida com a delicadeza que a vida exige? Os vizinhos fizeram uma vaquinha e pagaram os mil e quinhentos reais devidos.

Quando a ONU institui que 1975-1985 seria a Década da Mulher e define metas a serem atingidas neste período para enfrentar as desiguais situações de vida das mulheres no mundo, quando Joan Scott historiadora norte americana publica seu artigo tratando de Gênero como categoria útil para analise histórica no final da década de oitenta, estamos inaugurando nova era.

Temos os avanços das políticas publicas para as mulheres, temos hoje em andamento diversas ações e programas executados institucionalmente por governos federal, estaduais e municipais, traçados em conferencias com a participação de mais de três mil mulheres do Brasil todo. Ainda que tímidos, recursos públicos tem sido alocados na construção de cidadania para as mulheres, na promoção da equidade de gênero. É um novo momento sendo construído, embora no geral, o déficit de igualdade entre homens e mulheres continue sendo uma marca no funcionamento da sociedade moderna. Ainda há muito o que melhorar na vida das mulheres e nas relações de gênero.

Tenho pensado muito no feminino, no que poderia ser sua definição, sua aplicação, valorização. Falta feminino no mundo. O feminino com sua habilidade de intuir, criar,encantar, proteger,iniciar,nutrir, ensinar e curar. Da compaixão, resistência e força.

E o bom é que este feminino, tão expresso e pertencente a mulher, é comum de dois sexos.Só precisa ser cultivado entre nós.

Que seja mais feliz nosso 8 de março de 2012!

A luta continua até que sejamos todas livres!

Maria Rosana

03 de fevereiro de 2012

Lançamento da Campanha Quem Ama Abraça no Largo da Carioca

No dia 25 de novembro de 2011 o Largo da Carioca, cenário de grande movimentação de pessoas no Centro do Rio, foi o local escolhido para divulgação da Campanha Quem Ama Abraça.

O evento contou com panfletagem, muita música, hip hop, e dança. André Zovão, Lisa Csf, ReFem Revolta Feminina e outros/as rappers, deram um show de arte e consciência política. A Cia Cria, um grupo de jovens dançarinas, apresentou uma bela coreografia que emocionou o público presente e ao final distribuíram flores brancas e vermelhas num gesto simbólico de paz e respeito.

Rede de Desenvolvimento Humano e o Instituto Magna Mater fizeram um balanço das bonecas de madeira que foram espalhadas em diversos pontos de grande circulação da cidade, como Lapa, Praça XV, Central do Brasil, dentre outros. Para vislumbrar essas bonecas entre no site: www.quemamaabraca.org.br, e vejam o que fizeram com elas.