Adalzira Bittencourt (1904-1976)

Escritora paulista, ainda adolescente fundou o periódico Miosótis; colaborou com diversos periódicos paulistas e mineiros. Em 1946, na cidade do Rio de Janeiro, organizou a Primeira Exposição do Livro Feminino, evento também realizado no ano de 1949 em São Paulo. Foi membro de diversas entidades culturais, nacionais e estrangeiras.
Adalzira publicou vários livros que resgatavam a construção da memória feminina. Faleceu em 28 de outubro de 1976.
 

Adalgisa Rodrigues Cavalcanti (1907-1998)

Pernambucana, de origem humilde trabalhou como doméstica e depois como vendedora e representante comercial.
Participou da comissão de solidariedade aos presos políticos, após o levante comunista de 1935. No ano seguinte foi presa, permanecendo detida por quatro meses na Colônia Penal do Bom Pastor. Filiou-se ao PCB, integrando a Célula 13 de Maio. Por ter apenas o curso primário, recebeu educação complementar como parte das obrigações de entrada no PCB.
Em final de 1945, foi eleita deputada estadual , tornando-se a primeira mulher da história de Pernambuco a ocupar uma cadeira no Parlamento Estadual. Sua promissora carreira política foi interrompida em maio de 1947, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu cassar o registro do PCB. Faleceu em 26 de abril de 1998, em Recife.
 

Adalgisa Néry (1905-1980)

Carioca, escritora, jornalista e política. Casou-se, aos 16 anos, com o pintor e poeta paraense Ismael Néri, um dos precursores do Modernismo no Brasil. Graças a freqüentes reuniões em sua casa, ingressou em um sofisticado circuito intelectual, passando a conviver com intelectuais dentre os quais Manuel Bandeira, Carlos Drumond de Andrade, Murilo Mendes. Após o falecimento de Ismael Neri iniciou carreira literária, publicando seu primeiro trabalho em 1935 na Revista Acadêmica.
Em 1940 casou-se com o jornalista e advogado Lourival Fontes, diretor-geral do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão do estado Novo responsável pela censura. Posteriormente nomeado embaixador do Brasil do Brasil no México. Com isso Adalgisa Neri passou a freqüentar a elite intelectual daquele país; tendo sido retratada por Diogo Rivera e Frida Kalo. De volta ao Brasil, após sua separação, iniciou carreira como articulista política, tendo escrito, de 1955 a 1966 no jornal Última Hora, em uma coluna diária intitulada “Retratos sem retoques”. O sucesso da coluna levou-a a se candidatar pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Foi eleita à Assembléia Constituinte do então estado da Guanabara, em 1960; foi reeleita por mais dois mandatos em 1962 e 1966.
Adalgisa alcançou seu maior sucesso literário com o romance autobiográfico “A imaginária” publicado em 1959. Em seguida publicou livro de contos, volumes de poesias. Foi cassada pela junta militar em 1969. Faleceu em 1980 em um abrigo de idosos no Rio de Janeiro.
 

Ada Rogato (1920-1986)

Paulista, fez quatro cursos de aviação, sendo habilitada em 1936. Por suas façanhas, foi a primeira aviadora brasileira a receber a comenda Nacional de Mérito Aeronáutico, no grau de cavaleiro. Definitivamente escreveu seu nome na história por ser a primeira aviadora do mundo a percorrer sozinha as três Américas. Tornou-se uma marca notável de sua carreira, percorrer grandes distâncias sozinha.
Durante sua carreira de aviadora foi condecorada diversas vezes por várias instituições e países. Obteve medalhas e condecorações em diversas competições aéreas e de pára-quedista, foi a primeira mulher a soltar de helicóptero, durante a festa da Aviação na cidade de Barretos (SP), e a primeira a soltar no exterior. A trajetória de pioneirismo foi interrompida em 1986 com seu falecimento.
 

Acácia Brazil de Mello (1921 – 2008)

Harpista fluminense, muito menina inicio seus estudos com a harpista espanhola Lea Bach. Estreou aos 10 anos em 23 de agosto de 1931, no teatro Cassino (RJ), acompanhando sua professora. Formou-se na Escola Nacional de Música da então Universidade do Brasil em 1939 e casou-se neste mesmo ano. Acácia Brazil de Mello é uma das maiores expressões brasileiras da harpa, por seu talento e empenho sua carreira confunde-se com a história da harpa no Brasil; o que lhe confere a graça de ser considerada uma das principais responsáveis pela formação de gerações de harpistas brasileiros. Dentre as diversas atuações em sua carreira de musicista, fez parte da Orquestra Sinfônica Brasileira e a Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio MEC como primeira harpista, foi fundadora, diretora e consultora da American Harp Society, da Corporation of World Harp Congress (EUA) e da sociedade Ludovico (Espanha). Publicou trabalhos e artigos diversos.

Faleceu no dia 28 de outubro de 2008 aos 87 anos

Abigail Soares de Souza (c.1890-?)

Educadora mineira, desde os 15 anos colaborava ativamente com os jornais do interior de Minas Gerais. A qualidade de seus artigos acabou estendendo sua colaboração para jornais de circulação mais ampla, editados na então capital da República, como ‘O País” e o “Jornal do Brasil”. Ganhou concurso sobre o folclore brasileiro, da revista “a Mode Ilustrée”. Trabalhou como professora em sua cidade natal, Leopoldina, e depois dedicou-se ao jornalismo, colaborando nos principais periódicos do país. Também colaborou com atividades sociais relativas à maternidade e à assistência aos lázaros. Foi uma das fundadoras da maternidade Pró-Matre, entidade da qual foi diretora. Publicou o livro “Dias de sol e de sombras”.

Abigail Andrade (1864-?)

Artista plástica, nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império. Expôs no Salão de Belas-Artes nos anos de 1884 e 1888; período em que as meninas eram treinadas para as prendas do lar e somente estimuladas a procurar a pintura e o desenho apenas para passar o tempo. Artista talentosa fez da pintura sua profissão, o que demonstrava um caráter rebelde para época.

As mulheres neste período eram proibidas, de se matricular em escolas de belas- artes (isto ocorreu até a proclamação da República) – o que não as impedia de inscrever seus trabalhos nas exposições anuais. A proibição ocorria em razão do uso do modelo vivo nas disciplinas das belas-artes, herança da tradição francesa.

 

Rosinha (1952 – 1986)

Rosa Beatriz Gouveia Rosa, chamada carinhosamente por Rosinha, tinha tanta rosa no nome que não poderia ter sido diferente. Era uma flor de pessoa. Nasceu em 1952, em São Paulo.

Em 1971, começou seus estudos na área de Geologia na USP – Universidade de São Paulo onde também defendeu sua tese de doutorado, depois de passar quatro anos na França (1976-1979) fazendo mestrado.
Sempre foi uma mulher apaixonada pela vida e consciente da situação política e social. Sonhava com democratização do país, com a liberdade e a igualdade. Essas e outras utopias faziam com que Rosinha fosse uma militante de várias frentes, tais como o Sindicato de Geólogos de São Paulo, O Partido dos Trabalhadores de Osasco e o Movimento pela Emancipação do Proletariado.
Também era militante do Movimento Feminista de São Paulo e de Osasco. Foi uma das fundadoras do CIM – Centro Informação Mulher, em 1981.
Doutora em Geologia, com especialização em águas subterrâneas, trabalhava no DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica, autarquia vinculada à Secretaria de Saneamento e Energia e responsável pela gestão integrada dos recursos hídricos no Estado de São Paulo.
Em 1986 o DAEE assinou um convênio com o governo peruano e Rosinha foi designada para passar seis meses em Lima, capital do Peru, trabalhando com as questões ligadas à sua especialização, ou seja, a contaminação de águas subterrâneas.
Na década de 1980, o país vivia uma grande ditadura liderada pelos latifundiários e burgueses apoiados pelo imperialismo norte-americano. O grupo Sandero Luminoso, de ultra-esquerda e que defendia a luta armada como resposta a violência do Estado peruano, crescia, ganhava cada vez mais apoio popular e resolveu responder com a mesma moeda, ou seja, com a chamada violência revolucionária que não demorou se espalhar pelo campo e pelas cidades. Foram muitas as mortes e violações dos direitos humanos de ambos os lados.
Em Junho de 1986, durante a estada de Rosinha no Peru, ela recebeu a visita de um amigo geólogo e ambos resolveram fazer um passeio a Machu Picchu. Quando estavam dentro do trem na estação de Cuzco (para Machu Picchu) houve o atentado do Sendero Luminoso e Rosinha foi atingida de maneira fatal.
A notícia da morte de Rosinha deixou suas amigas e amigos brasileiros tristes e perplexos. Suas companheiras do CIM – Centro de Informação Mulher e do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde de São Paulo lhes prestaram uma grande homenagem na época. O postal confeccionado especialmente para esse tributo dizia “… nós mulheres, geradoras da vida, feministas, amigas de Rosa, afirmamos que a luta pela liberdade não pode se dar à custa de perda de vidas de pessoas que agem pela mesma causa. Companheiras feministas do Peru e da América Latina, que a dor tão desnecessária frente a morte de Rosinha seja um sinal de alerta, um marco que leve à reflexão sobre as formas de luta, para que elas sejam uma afirmação da vida”. (Colaboração Sonia Calió e Margarete Lopes)
 

Nilcéa Freire (1952 – )

Nilcéa Freire nasceu no Rio de Janeiro em setembro de 1952.
Ao mesmo tempo em que se envolvia na militância política contra a ditadura militar, como membro do PCB, Nilcéa formou-se médica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1978. No entanto, ao longo do período em que freqüentou a Faculdade de Ciências Médicas, ela se viu repentinamente obrigada a interromper seus estudos e exilar-se no México, entre 1975 e 1977. Ao retornar, Nilcéa cursou a Residência Médica na FCM/UERJ, à qual seguiu-se o mestrado em Zoologia no Museu Nacional da UFRJ. Ao longo de sua formação como pós-graduada, a então estudante e militante dedicou-se à pesquisa dos parasitas responsáveis pelas grandes endemias do Brasil, o que acabou por ser objeto de sua dissertação de mestrado (concluída em 1985) e de estágio de pesquisa no Museu Nacional de História Natural de Paris, Laboratório de Zoologia de Vermes, em 1984.
Em 1980 Nilcéa é admitida como docente da UERJ e passa atuar como professora de Parasitologia e pesquisadora, tendo então desenvolvido uma série de trabalhos e publicações na área, o que lhe rendeu destacada participação em congressos e estudos sobre o tema. Paralelamente, Nilcéa ingressa na militância acadêmica e passa a ocupar diferentes postos como representação política dos docentes, desde a estrutura interna de seu departamento até os conselhos superiores daquela instituição. A partir de 1988 a professora passa a dedicar-se também à administração universitária – o que a motivou a realizar uma especialização em administração universitária, em 1992, no Canadá. Ao longo desta trajetória, Nilcéa Freire foi assessora da Sub-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UERJ, Diretora de Planejamento e Orçamento da Universidade e, em 1995, é eleita Vice-Reitora. Ao final de 1999, é eleita Reitora da UERJ para o mandato de 2000 a 2003, sendo a primeira mulher a ocupar este cargo em universidades públicas do estado do Rio de Janeiro. Ao longo de sua gestão à frente da Universidade, Nilcéa lidera o processo de implantação do primeiro sistema de cotas no vestibular para alunos oriundos da rede de educação pública e para afro-descendentes, criando uma experiência pioneira e inovadora no Brasil.
Em fevereiro de 2004 Nilcéa é convidada a ocupar o cargo de ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), então ainda recém criada. À frente deste órgão, Nilcéa tem se destacado por sua lucidez e intensa capacidade de trabalho, o que tem rendido à pauta das políticas públicas para as mulheres a legitimidade política necessária para garantir a sua implementação. Entre as ações desenvolvidas ao longo de sua gestão – sempre em parceria com o Conselho Nacional de Direitos da Mulher, que preside desde 2004 – destacam-se: a realização da I e da II Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres, que formularam e avaliaram o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres; a aprovação da Lei Maria da Penha, que criminaliza e estabelece punição à violência doméstica contra a mulher; a qualificada atuação brasileira nos fóruns internacionais que debatem a questão de gênero; a implementação do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; o fomento à geração de emprego e renda para as mulheres através de diferentes programas; entre outras.

Como reconhecimento pela competência e importância de seu trabalho, quando em 2007 iniciou-se o segundo mandato do presidente Lula e foi aventada a possibilidade de que Nilcéa fosse substituída, o movimento feminista e de mulheres brasileiro mobilizou-se imediatamente, levantando em 48 horas milhares de assinaturas em apoio à sua manutenção à frente da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. (colaboração Cintia Rodrigues).
 

Lena Frias (1944 – 2004)

Marlene Ferreira Frias, mas conhecida por Lena Frias, nasceu em 1944. Exímea pesquisadora da Música Popular Brasileira, era considerada, uma das mais importantes jornalistas de música e cultura brasileira. Ligada ao samba e choro, mas, sobretudo a cultura brasileira em geral. Seus trabalhos primavam pela pesquisa e a importância do tema para sociedade. Seus artigos evidenciavam um saber que percorria o Brasil de ponta-a-ponta. Versava sobre o cantador Azulão da Feira de São Cristóvão e Ariano Suassuna, assim como, superstições e lendas ou sobre as raízes pré-ibéricas do boi amazônico. Considerava a cultura Brasileira um valor de identidade. Dedicava-se a tudo que pudesse revelar as matrizes desta identidade.
Trabalhando no Jornal do Brasil, foi autora nos anos de 1970, de reportagens de grande profundidade e de alto teor investigativo sobre a Cidade de Deus (comunidade na Zona Oeste do Rio de Janeiro), sobre o fenômeno do Black-Rio (black-musica criada no Rio de Janeiro na década de 1970; formada pela mistura do funk, soul amaricano, samba e jazz), dentre diversas outras pérolas do jornalismo no período.
Fez parte do Conselho de Carnaval da Cidade do Rio de Janeiro, assumindo no ano de 1999 uma das cadeiras do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Era divulgadora e entusiasta de artistas populares como Clementina de Jesus, Candeias, dentre diversos outros. Com Hermínio Bello de Carvalho e Nei Lopes escreveu o livro Mãe Quelé, livro sobre Clementina de Jesus. Seu último trabalho foi escrever o release sobre o cd de dona Ivone Lara, lançado em 2004. Era profunda conhecedora do samba. Militante incansável da cultura afro-brasileira levava este conhecimento ao público através de um texto refinado e recheado de cadência.
Faleceu de câncer de mama a 12 de maio de 2004.