Você sabia que a primeira mulher que governou o Brasil foi a Princesa Isabel? Por três vezes, na ausência do seu pai D. Pedro II por motivo de viagem, ela assumiu o trono. Em dois desses períodos, foram assinadas leis importantes como a Lei do Ventre Livre e a lei que abolia a escravidão no Brasil.
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Voto feminino
O Brasil completa 70 anos do voto feminino e as mulheres são maioria nas urnas. No ano 2002, pela primeira vez numa eleição presidencial, 51% dos eleitores são mulheres. As mulheres terão 2 milhões e 300 mil votos a mais que os homens. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral. 2 – Somente no ano de 2002 foi concedido o divórcio pedido por uma mulher na Jordânia. A nova lei aceita pelo tribunal islâmico, em vigor desde janeiro, possibilitou às mulheres esta oportunidade já que antes apenas os homens podiam pedir o divórcio. Contudo, a beneficiada ainda teve que devolver parte do dote.
Na colonização do Brasil – séc. XVI
A Coroa Portuguesa, diante de recursos limitados ou falta de interesse, delegou a tarefa de colonização de determinadas áreas a particulares, através da doação de lotes de terras a nobres e pessoas de confiança do Rei Dom João VI. Este sistema ficou conhecido como Capitanias Hereditárias.
Iª Corrida e Caminhada da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Município do RJ
Como parte dos 16 dias de ativismo, que se iniciaram no dia 25 de novembro – Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres – a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Rio de Janeiro (SPM/Rio) organizou a Iª Corrida e Caminhada, Empoderamento e Inclusão da Mulher através do Esporte, que foi realizada na Orla Conde, Boulevard Olímpico, Praça Mauá, Rio de Janeiro.
A mobilização contou com a presença de representantes e ativistas de organizações sociais, de organizações públicas, dentre outras. A Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH) esteve presente, apoiando e participando de mais um evento pelo fim da violência contra as mulheres.
25 de novembro – Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres
16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres
Hoje, dia 25 de novembro – Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher -, se inicia a campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Tal evento tem como objetivo incentivar a discussão e denunciar as situações de violência vivenciadas pelas mulheres.
A primeira edição da campanha 16 Dias de Ativismo ocorreu em 1991, através da reunião de mulheres de países diferentes no Centro de Liderança Global de Mulheres (Center for Women’s Global Leadership – CWGL/EUA). No entanto, o dia 25 de novembro é uma data que foi instituída durante o I Encontro Feminista da América Latina e Caribe, realizada em Bogotá, capital da Colômbia, no ano de 1981.
A mobilização, que acontece anualmente, tem hoje a adesão de cerca de 160 países e a atuação de integrantes da sociedade civil, organizações não governamentais e órgãos institucionais do poder público. No Brasil, os 16 Dias de Ativismo acontece desde 2003 através da organização de debates, encontros, palestras e ações de mobilização nos espaços públicos, onde todas se reúnem em favor do engajamento e enfrentamento pelo fim da violência contra a mulher.
Nesse contexto de luta, a Redeh lançou em 2013 a campanha Quem Ama Abraça! Na Escola – Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que tem como objetivo principal refletir e sensibilizar sobre a problemática da violência de gênero dentro das escolas, reforçando ações de enfrentamento da questão.
Casa das Mulheres da Maré – um espaço de diálogo e empoderamento
Na última sexta-feira do mês, dia 28 de outubro de 2016, foi inaugurada a Casa das Mulheres da Maré, no Parque União, Complexo da Maré. A Casa é uma iniciativa da Redes da Maré, que é uma organização que trabalha pela justiça social e pelo empoderamento das mulheres da Maré. A Casa das Mulheres da Maré abrigará o projeto “Maré de Sabores” e será um espaço de diálogo e de enfrentamento da violência contra as mulheres.
A inauguração contou com a presença de parceir@s, apoiador@s e d@s integrantes das organizações envolvidas.
Mulheres – um século de transformações
A obra editada pelo Globo é uma compilação de vários artigos, de autoras diversas, que falam sobre moda, cultura, política, ciência, tecnologia e outros assuntos atuais. O livro, também, traz imagens de mulheres protagonistas que participaram da construção sociocultural e política do nosso país. Não percam!
Casa Ipanema – Rua Garcia Dávila, 77 – Ipanema, Rio de Janeiro (de 30 de setembro a 13 de outubro, segunda a sexta, das 10 hrs as 20 hrs, sábados das 11 hrs às 18 hrs.
Câmara municipal ou clube do bolinha?
http://vozerio.org.br/Camara-municipal-ou-clube-do-bolinha
Arquivo anexado: 148_5.pdf
Eleições 2016 30 / 09 / 2016| Saulo Pereira Guimarães
Câmara municipal ou clube do bolinha?
O número total de candidatos em Rio, São Gonçalo, Caxias, Nova Iguaçu e Niterói é mais que o dobro de candidatas. Entretanto, há mais eleitoras do que eleitores nas cinco cidades. Na conta que não fecha, quem sai no prejuízo é a representação feminina nas casas legislativas dos maiores colégios eleitorais da região metropolitana do Rio.
O endereço até muda, mas o cenário é o mesmo: muitos homens decidem, com a participação de poucas mulheres. A predominância masculina verificada hoje nas câmaras municipais deve continuar a existir nos próximos anos. Na eleição de domingo (02), o número de candidatos a vereador será mais que o dobro que o de candidatas nos cinco maiores municípios da região metropolitana do Rio.
“Com menos recursos e menos experiência, elas já saem em desvantagem”
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 2.642 homens e 1.150 mulheres vão disputar vagas nas câmaras municipais de Rio, São Gonçalo, Caxias, Nova Iguaçu e Niterói em 2016. Porém, quando se considera o universo de votantes, os papeis se invertem. São 3.267.181 homens e 3.890.722 mulheres. “Pior do que esses números é a posição que as mulheres ocupam na disputa. Com menos recursos e menos experiência, elas já saem em desvantagem”, afirma Schuma Schumaher, pedagoga, coordenadora executiva da Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh) e integrante do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA). Em 2010, o órgão colaborou na elaboração do Guia de Formação Política para Mulheres, do Governo Federal.
É bom dizer que a disparidade entre o número de candidatos e o de candidatas já foi maior no passado. Nos últimos anos, o TSE intensificou a fiscalização em relação ao cumprimento da lei 9.504, de 1997. Ela determina a presença de, pelo menos, 30% de candidatos de cada sexo em cada partido. Entretanto, a criação do mecanismo não resolveu o problema da participação feminina na política. “A cota virou teto”, explica Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e Político da UERJ.
Por que isso acontece?
Na opinião de Luiz, os partidos têm um papel importante na desproporção entre os números de candidatos e candidatas. Afinal, são eles que decidem o rosto de quem aparecerá na urna. “Quanto mais importante e decisivo é o cargo, menor é o número de mulheres ou negros em que se pode votar”, diz o sociólogo, que publicou recentemente um estudo sobre o tema. Além disso, há ainda outro problema. “Ter 30% de candidatas não significa que teremos plenários com 30% de vereadoras”, lembra Jairo Nicolau, professor de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ.
“Assuntos como a criação de creches deixam de ser prioridade”
Fatores como o menor apoio por parte das legendas contribuem para reduzir a porcentagem de eleitas. “Uma mulher bem votada não necessariamente puxa outras consigo”, destaca Luiz. Isso se reflete na composição dos plenários. Das cinco maiores cidades da região metropolitana do Rio, Caxias é aquela com o maior percentual de vereadoras. São 4 de 29, que representam 14% do total. Na capital, elas representam apenas 12% do quórum de 51 pessoas. Iza Guerreira (PMDB) e Giane Silveira (PRP) são as únicas mulheres nas câmaras de São Gonçalo e Nova Iguaçu, respectivamente. Ambas disputam a reeleição no domingo. Em Niterói, são duas vereadoras e 20 vereadores.
Os especialistas acreditam que a baixa representação feminina se reflete no menor interesse do Legislativo por temas que afetam a vida da mulher. “Assuntos como a criação de creches deixam de ser prioridade”, diz Luiz. Ele, Jairo e Schuma concordam que a mudança desse cenário passa pela conscientização dos eleitores e a criação de mecanismos eficientes para reduzir as desigualdades. “Devemos enfrentar o machismo que teima em dividir o mundo entre lugares de homens e mulheres”, defende a pedagoga.
Fonte: http://vozerio.org.br/Camara-municipal-ou-clube-do-bolinha, acesso em 10 out. 2016.
Jornal Nuvem Negra – a imprensa negra do século XXI
No dia 01º de abril de 2015 um grupo de estudantes negr@s da PUC-Rio lançou o Coletivo Nuvem Negra (CNN), com objetivo de “posicionar-se politicamente dentro e fora da PUC-Rio, pautando demandas e abrindo diálogos sobre as questões pertinentes a comunidade negra no cenário brasileiro das instituições universitárias”, como afirma seus/suas integrantes.
Uma das principais motivações da criação do Coletivo se deu no lançamento do Projeto Memória Lélia Gonzalez – uma parceria da REDEH, FBB e PUC-Rio – que ocorreu em março de 2015, o qual contemplou uma das maiores referências intelectuais para os estudos de raça e gênero no Brasil, Lélia Gonzalez.
A PUC-Rio foi uma das organizações envolvidas neste evento, por ter sido a universidade na qual Lélia Gonzalez atuou durante 16 (dezesseis) anos, desde 1978 até 1994, ano de seu falecimento. Ministrou a disciplina de folclore brasileiro no Departamento de Letras e a disciplina de antropologia no Departamento de Sociologia e Política, atual Ciências Sociais, chegando à direção, mas faleceu pouco tempo depois de sua posse.
Segundo o CNN, “Uma das principais causas do Coletivo é a construção de um espaço de fortalecimento dos estudantes negros da PUC-Rio e a disseminação da produção e pesquisa de intelectuais negros – que sempre representaram uma importante ferramenta de luta e reflexão acerca de nossa identidade”.
Pautando-se nas escrevivências de Conceição Evaristo (escritora e intelectual negra), o CNN escolheu o campo da escrita como instrumento de resistência e militância política, recuperando a imprensa negra tão efervescente do século XIX e XX.
No último dia 14 de setembro de 2016, o CNN fundou o Jornal Nuvem Negra, cuja capa traz uma belíssima foto de Lélia Gonzalez, de autoria do fotógrafo Januário Garcia. E já nesta primeira edição, o grupo lançou uma campanha “Quant@s professor@s negr@s a PUC-Rio tem?”. Para saber mais: https://www.facebook.com/coletivonuvemnegra/?fref=ts
Entrevista da Feminista Negra Carmen Silva, do SOS Corpo
A entrevista que segue abaixo, pertence ao site “Blogueiras Negras” (http://blogueirasnegras.org/2016/09/19/bn-entrevista-carmen-silva/) e foi publicada no dia 19 de setembro de 2016.
Sobre a entrevistada: Carmen Silva é socióloga, feminista negra e colaboradora da Organização SOS Corpo, que atua em Recife/PE.
Carmen Silva é uma dessas mulheres que você consegue ficar conversando por horas. Voz doce, sorriso largo e um abraço reconfortante essa manauara cheia de sabedoria que faz a gente querer ficar ouvindo por horas, nos traz lições a serem aprendidas no feminismo e na vida. Carmen Silva é dessas mulheres negras que a gente precisa ouvir. Com a palavra, ela!
Sabemos que você não é recifense. Onde nasceu Carmen Silva? Como foi crescer naquela cidade?
Adoro Recife mas não sou recifense. Sou de São Luís do Maranhão, uma ilha maravilhosa bem ao norte do país. Nasci e cresci lá, mais precisamente no Cruzeiro do Anil, um bairro de periferia por onde passava o Rio Anil, bem atrás de minha casa, onde hoje é um córrego de esgoto. Me criei no meio da labuta de meus pais, no sufoco de estudar longe de casa, ir andando e mais tarde de ônibus e ter que começar a trabalhar fora aos 15 anos. Lá vivi fortes experiências políticas e culturais. É um lugar de muita pobreza e de uma riqueza cultural incrível.
Você teve oportunidade de estudar, de aprender a ler e escrever e hoje tens doutorado. Qual a importância disso como mulher negra feminista? Como foi chegar até esse lugar?
Foi e é uma luta permanente. É importante que todo mundo possa estudar…. Meus pais eram lavradores no Ceará e foram pro Maranhão expulsos pela seca. Foram correndo atrás de suas melhoras. Daí eles tinham uma relação com trabalho muito forte e queriam muito que a gente estudasse pra ter um trabalho melhor. Todos os filhos e filhas estudaram. E também tinham que trabalhar pra garantir o sustento da casa toda. Neste tempo eu não sabia que era negra. O fato de não ter a pele preta e nem o cabelo muito enrolado, numa cidade como São Luís, que é majoritariamente preta, fez com que eu não me identificasse como negra e nem fosse vista pelos outros assim, mesmo eu já sabendo que minha bisavó era negra e meu avó materno também, mas não se reconhecia. No meu bairro tinha muitos negros pretos, inclusive a família vizinha, e isso fazia a gente ser visto como branco. E ainda hoje funciona assim. Por não ter a pele preta, pesa muito mais na minha vida a classe e as interdições e obrigações por ser mulher do que a questão racial, se é que a gente pode separar isso pra medir, porque na realidade tudo vem junto e misturado.
Qual era o cenário feminista da época de quando você começou a militar? O que mudou em termos de avanço de lá pra cá?
Quando eu comecei a militância não foi no movimento feminista, foi no movimento contra a carestia e no movimento da igreja popular, eu tinha 14 anos. Depois fui pro movimento estudantil, movimento popular de transporte, o sindicalismo e o partido dos trabalhadores. Só entrei no movimento feminista, de forma orgânica, a uns treze anos atrás, já em Recife. Mas, naquela época em que comecei, tinha muito a política de frente ampla, então todo mundo acabava se encontrando em muitas ações. Daí eu via que o movimento feminista, na minha cidade, era um pequeno grupo, de mulheres profissionais, umas trabalhavam com mulheres populares ou rurais, outras não. Tinham duas, uma negra e uma branca, que trabalhavam na Cáritas e tinham uma pegada bacana de trabalho com sexualidade… E no 08 de março todas se juntavam com as mulheres de outros movimentos, e também a gente fazia ação conjunta de rua quando tinha um caso de assassinato ou estupro de uma mulher.
De lá pra cá mudou muito. O movimento feminista cresceu muito. Hoje existem muitas redes e articulações nacionais, muitas frentes de luta, muitos coletivos locais e muito debate na internet. Já tivemos muitas conquistas no campo dos direitos e agora estamos enfrentando este golpe parlamentar que ameaça com retrocessos. Também estamos enfrentando o crescimento do fundamentalismo religioso na sociedade, que traz muitos desafios pro nosso movimento e pra vida das mulheres em geral.
Você é muito respeitada e requisitada dentro do movimento por várias mulheres. Como você consegue dar suporte, ajudar, pensar nas outras sem que isso afete tanto suas saúdes (emocional, física)? Existe um segredo?
No movimento que eu participo a gente aprende umas com as outras e cuida umas das outras também. Com isso a gente tem força pra lutar conjuntamente. E, além disso, a gente tem que ter responsabilidade com nós mesmas, né? Então eu tenho umas coisas de cuidar de mim que aprendi com a sabedoria antiga, e daí fico me observando pra ver quando tá vindo uma onda ruim no corpo. Daí paro, descanso, respiro mais…essas coisas.
Nós feministas do Recife temos muita admiração por sua capacidade pedagógica e seu jeito sensível de educar para a revolução. Como é possível diante de tanto retrocesso? A revolução das mulheres está mais perto ou mais longe?
Diante de tanto retrocesso como estamos vivendo com este golpe, a exigência é maior, porque precisamos ampliar muito nossa luta. Mas, antes também havia dificuldades, mas de outra natureza. O governo Lula/Dilma não tinha a política de nossos sonhos, em vários aspectos, mas neles conquistamos algumas coisas importantes no enfrentamento ao sexismo e ao racismo. Mas, é isso, a pedagogia feminista tem o desafio de contribuir com a formação de mulheres como sujeitos políticos que se auto-organizam e lutam para mudar a situação de exploração e dominação na qual nós vivemos. Pra isso é necessário a gente construir um modo de ser, uma subjetividade não subjugada, mas é preciso também se organizar em movimentos capazes de realizar ações coletivas, enfrentar os antagonistas, e em diferentes contextos arrancar conquistas do Estado em frente a sociedade… daí a formação política feminista é muito necessária pra nos ajudarmos a entender o que nós mesmas vivemos e a construir caminhos para nossas lutas. É preciso mesmo que a gente se educar para a revolução, mas isso ocorre enquanto a gente vai fazendo a revolução. Acho que não vai existir um momento mágico no qual a revolução das mulheres acontecerá, mas todos os momentos em que não nos subjugamos ou que lutamos por uma causa, que é nossa própria causa, nestes momentos vivemos a epifania da revolução, e ela nos ocorre com uma emoção forte de nos saber irmanadas no mesmo desejo de mudar a vida de todas as mulheres, e de mudar o mundo. No movimento que eu participo, a AMB, a gente usa uma frase da companheira Guacira que é quase um mantra e tem a ver com esta tua pergunta: “o desafio do feminismo é transformar o mundo enquanto transformamos a nós mesmas e ao nosso movimento”. É isso!
O SOS Corpo tem 30 anos de existência e por ele existem e passaram mulheres incríveis. Você pode descrever o que é trabalhar e militar ao lado de tantas dessas mulheres? Quais são os desafios disso?
Este ano já fazemos trinta e cinco anos. Há treze eu estou por aqui e não quero sair. Gosto muito de atuar no SOS. A gente se define como um coletivo político-profissional feminista e autogestionário. É muito bom poder aliar nossa ação política feminista como nossa atuação profissional nas áreas de pesquisa, comunicação e educação. A gente procura fazer o que está ao nosso alcance para contribuir com o fortalecimento do movimento feminista e para impulsionar o feminismo no mundo. Os desafios são muito grandes e só aumentam em tempos de crescimento do conservadorismo, do fundamentalismo religioso, e da tomada do Estado pela direita ultraliberal. Temos o desafio de nos sustentarmos e, ao mesmo tempo, não aceitar recursos diretos de empresas e nem ser executoras de políticas de governos. Também o desafio de ampliar a nossa compreensão da realidade das mulheres nos diferentes contextos do Brasil e de construir metodologias que fortaleçam suas organizações e suas lutas. A gente se desafia a contribuir para que as diferentes articulações e coletivos de mulheres possam ser sujeito de suas propostas para o mundo, falar com sua própria voz. Enfim, é um desafio constante, pois, ao mesmo tempo, apoiamos o movimento e somos parte do movimento e isso não é uma operação simples.
Nós jovens feministas – ainda consideradas jovens pela ONU haha – temos algumas dificuldades e uma delas é conversar com as feministas jovens a mais tempo, como você mesmo diz. Qual a sua opinião sobre o debate geracional? As mulheres negras estão fazendo esse debate? Se não, existe um caminho?
Quando há uns 40 anos atrás o movimento feminista, como o conhecemos hoje, começou a se organizar no Brasil, as mulheres que fizeram isso eram na grande maioria jovens. Ser jovem naquele contexto era bem diferente de ser jovem hoje. Hoje nós temos uma expansão grande do feminismo entre as jovens cada vez mais jovens e é muito bacana ver isso acontecendo nas ocupações de escola, na primavera feminista que manifestou o ‘fora cunha’, nos coletivos, nas blogueiras e nos inúmeros espaços na internet. Daí as articulações do movimento feminista devem ter abertura para acolher as que queiram construir juntas entrando nestas articulações e sensibilidade para se relacionar e fazer ações conjuntas com as que querem seguir outros fluxos.
Entendo que o debate geracional deveria considerar distintas gerações de mulheres, as crianças e as idosas são as duas pontas, no meio tem jovens e adultas. Cada grupo social destes tem demandas próprias de direitos, de políticas de proteção, e tem formas diferentes de existir e de se colocar no movimento. O movimento precisa construir espaços de diálogo e acolhida para todas.
Não saberia dizer se as organizações e redes de mulheres negras estão fazendo o debate geracional. No movimento que participo, que é misto quanto à raça, não temos o debate organizado nestes termos, mas temos uma presença de jovens que cresce a cada dia. Entretanto, as mulheres jovens têm se colocado a partir de outros referentes e temos pouca discussão sobre a questão da juventude.
Por fim, deixe-nos, por favor, uma mensagem que você diria pras mulheres negras que estão desacreditadas, sem forças <3
No nosso coração nasce uma grande força quando nos sentimos parte de um grupo social que é explorado e dominado pelo sistema, mas que resiste bravamente desde sempre, que constrói espaços próprios de acolhida, que reflete juntas, tem seus próprios saberes, se organiza coletivamente, enfrenta os antagonistas em diferentes contextos, faz suas lutas e que também tem muitas conquistas. Isso é o movimento feminista. O movimento tem várias vertentes, muitos conflitos, muitos jeitos diferentes de se organizar e de atuar, mas tem um sentido maior que nos alimenta, que é construir a força política das mulheres para enfrentar o patriarcado, o racismo e o capitalismo. Só com nossa força podemos atuar de forma autônoma e articulada a outras forças políticas daqueles que sofrem com estes sistemas. Sentir-se dentro da luta feminista aumenta muito a nossa força interior. No mais, temos que cuidar da gente mesma e cuidarmos umas das outras neste momento de crise, para não nos deixarmos abater.