Loreta Kiefer Valadares (1943 – 2004)

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: RS
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Feminista e ativista política contra o governo militar

Descrição:

Loreta Kiefer Valadares nasceu em Porto Alegre (RS), em 1943, e, aos seis anos, com a transferência de emprego de seu pai, Curt Kiefer – judeu-alemão fugitivo da perseguição nazista-, mudou-se para Salvador (BA). Em 1961 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia interrompendo o curso, contudo, alguns meses depois, para um estágio nos Estados Unidos. Desencantada com a situação social encontrada na América, retorna ao Brasil, em 1962, ingressando no recém criado Movimento Estudantil de Ação Popular (AP).
A mudança para São Paulo, onde a AP desejava criar bases sólidas, ocorreu em 1966, mesmo ano em que se diplomou. No ano seguinte, 1967, com Carlos Valadares – de quem se tornaria esposa em 1968-, rumou para Contagem- onde atuou junto ao operariado-e, de lá para Mata da Jaíba, também em Minas Gerais, atuando agora junto aos camponeses/as.
Presa com muitos/as outros/as companheiros em 1969, após retornar a Belo Horizonte, como conseqüência do recrudescimento político instaurado no país, após a promulgação em dezembro de 1969, do Ato Institucional nº 5 (AI5), pelo Governo Militar, manteve-se firme diante dos longos e cruéis interrogatórios aos quais era submetida. Desse período, a terrível lembrança de uma noite na qual foi levada ao pátio do 12º Regimento da Infantaria, por seus algozes, para que assistisse ao cruel espancamento do marido, amarrado pelas mãos e pés.
Libertada em maio de 1970, retorna a São Paulo e retoma contato com a AP, seguindo para Recife, descobrindo, em meados de 1971, ser portadora de um sério problema cardíaco- que lhe reduzia em 40% a capacidade cardiocirculatória-, agravado pelas condições as quais fora submetida no cárcere. Retornando a capital paulista para tratamento, foi no ano seguinte, 1972, condenada a três anos de prisão e, durante cinco anos experimentou a cassação dos direitos políticos. Seguindo orientação do Partido Comunista do Brasil (PC do B), ao qual se filiara, parte para a Argentina e, de lá para a Suécia, onde ao lado do marido atua em movimentos de solidariedade aos povos da América Latina.
Em seu retorno ao Brasil, 1980, torna-se professora de Ciência Política da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, assim permanecendo até aposentar-se anos depois. Com a saúde bastante debilitada, cansava-se enormemente em atividades como caminhar e fazer pequenos movimentos, com por exemplo pentear os cabelos. Ao falecer deixou como resultado de sua trajetória- além do testemunho de vida-, uma enorme contribuição ao movimento de mulheres e de luta para a conquista e garantia dos direitos humanos no país.
Loreta que se tornou mais conhecida, após a publicação do livro As Moças de Minas, de Luiz Manfredinni, em 1989, onde ela está incluída. Também empresta seu nome, desde 2005, ao Centro de Referência Loreta Valadares – Prevenção e Atenção a Mulheres em Situação de Violência (CRLV), primeiro do estado e conquista do movimento de mulheres, que funciona na cidade de Salvador. Resultado de articulação e parceria entre os governos municipal, estadual e federal, e inaugurado em 25 de novembro de 2005, Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, tornou-se em 2008, parte integrante da estrutura da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres (SPM).
Também na Bahia, em Vitória da Conquista, a Câmara Municipal instituiu em 2008, o título Mulher Cidadã Loreta Valadares, destinado a mulheres que se destaquem nas ações em defesa da causa feminina e o PCdoB baiano, partido a qual ela pertencia, deu seu nome a Escola de Formação criada com o objetivo de intensificar a troca de conhecimentos entre os militantes comunistas do estado da Bahia e propagar as idéias revolucionárias de Marx, Engels, Lenin entre outros, trilhando caminhos rumo à Revolução.
Loreta faleceu aos 61 anos, em 2004, na Bahia.