Zabé da Loca (século XX)

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: PE
  • Etnia: Desconhecida
  • Atividade: Tocadora de pífano

Descrição:

Isabel Marques da Silva, natural da região agreste de Buíque (PE), conhecida como Zabé da Loca aprendeu a tocar o pífano – ou pífio, como ela chama o instrumento de origem indígena parecido com uma flauta -, com um irmão, aos sete anos de idade. De origem humilde e analfabeta recorda com saudade dos irmãos e irmãs que auxiliavam ao pai na roça-sobreviventes, dentre outros que morreram de sede, doenças ou fome – enquanto a mais velha das mulheres auxiliava a mãe nos serviços de casa. Música e instrumentos só a noite, após o regresso do trabalho.
Jovem rumou para o Cariri, no sertão da Paraíba, onde se casou e teve dois filhos. Em 1966, mesmo ano em que perdeu o marido e também a casa onde morava – que ruiu e veio abaixo-, mudou-se com a família para uma loca – gruta ou caverna de pedra na linguagem regional -, entre duas pedras na Serra do Tungão, em Monteiro, localizado a cerca de 320 quilômetros da capital João Pessoa (PB), na qual permaneceu por 25 anos. Daí o "sobrenome" que ganhou dos moradores: Zabé da Loca.
Descoberta em 1994, pela ação da Coordenação de Ação Cultural da Secretaria de Reordenamento Agrário, entidade que em parceria com a Fundação Quinteto Violado identifica manifestações culturais na área do semi-árido nordestino, Zabé da Loca, em 1995, aos 71 anos gravou seu primeiro disco, que com edição limitada, nem sequer chegou às lojas.
Consagrada como a grande atração do Festival de Brincantes, realizado em Recife (PE), em 2003, teve a oportunidade de gravar seu primeiro CD, aos 79 anos, reunindo cirandas, xotes, cocos e baiões. Em 2004, apresentou-se com seu grupo na capital do país e acompanhou o músico Carlos Malta, em duas apresentações no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília (DF). Contudo, isso não foi tudo, afinal, no mesmo ano, Zabé participou com Hermeto Paschoal do Fórum Mundial de Cultura realizado em São Paulo (SP) e recebeu o título Mestres das Artes da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba. No ano de 2005 faixas de seu disco foram selecionadas e incluídas em Nordeste Atômico, disco lançado no Japão.
A banda de Zabé da Loca, por ela regida e composta por dois pífanos, um tarol, um prato e uma zabumba, já não tem mais a formação original. Seu filho e sobrinho, que a acompanharam desde o inicio faleceram e foram substituídos por outros parentes e também músicos de fora. Contudo, a preocupação com a preservação e divulgação do cancioneiro popular paraibano permanece atual, como nos tempos em que a banda se apresentava gratuitamente em festas na região.
Reconhecimento nacional, título de Cidadã Paraibana (2003) e o Prêmio Mulher Forte Ana Maia (2003), dentre outras homenagens, não alteraram a simplicidade e as características humildes da mulher que, trabalhadora rural nordestina e pobre, enfrentou várias adversidades ao longo da vida. Tanto assim que, embora, desde 2002, Zabé da Loca tenha se mudado para uma casa construída pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária- Incra, no assentamento Santa Catarina, uma vez por semana se refugia na loca- situada a cerca de dez minutos de sua casa de alvenaria -, para pensar e matar saudades, como ela mesmo destaca.
Aos 83 anos, em 2007, gravou Bom Todo. O título do álbum é a forma como Zabé da Loca se refere a algo ou a alguma coisa que considere maravilhosa e apenas mais um, dos muitos discos que a rainha do pífano ainda pretende fazer.