Sueli Carneiro ( 1950 – )

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: SP
  • Etnia: Negra
  • Atividade: Doutora em Educação, Feminista e Diretora do Instituto da Mulher Negra- Geledés.

Descrição:

A mais velha de uma família de sete filhos cresceu no bairro da Lapa, região proletária de São Paulo. Filha de mãe costureira – com o primeiro grau-, e pai ferroviário- semi-analfabeto-, formou-se em filosofia na Universidade de São Paulo- USP e na mesma instituição, posteriormente, obteve o título de Doutora em Educação. Foi também na USP que conheceu aquele que seria seu futuro marido.
A década de 1980 foi determinante para o surgimento de novas organizações, assim como ampliar a participação das afrodescendentes em diferentes espaços institucionais. Foi nesse período, em 1982, que Sueli, em 1982, que ao lado de outras companheiras fundou o Coletivo de Mulheres Negras de São Paulo. Um ano depois era criado o Conselho Estadual da Condição Feminina (CECF/SP) cuja composição chamou atenção, pois nenhuma, dentre as 32 conselheiras, era negra. Diante disso, a radialista Marta Arruda iniciou um campanha que, associada à ação enérgica de algumas lideranças, entre elas Sueli, interferiu decisivamente para que a uma vaga fosse aberta a uma representante de mulheres negras.
A chegada de Sueli Carneiro e outras ativistas negras no corpo técnico do CECF/SP incentivaram o debate sobre a realidade das afrodescendentes e contribuiu para que a luta contra a opressão de raça fosse incorporada ao conjunto de ações do órgão, culminando na criação da Comissão da Mulher Negra.
Com as portas abertas por São Paulo, essas ações se propagaram nacionalmente, gerando o desenvolvimento de políticas na esfera federal. Em 1988, durante o Centenário da Abolição, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher criou sob a coordenação de Sueli Carneiro, o Programa da Mulher Negra, que entre outras atividades, realizou em conjunto com a Comissão de Mulheres Negras do CECF/SP e a Comissão da Mulher Advogada da OAB São Paulo, o memorável Tribunal Winnie Mandela, o qual reuniu um grupo de jurados formado por personalidades da sociedade civil que julgou e condenou a discriminação contra as mulheres negras.
Meses anterior, nesse mesmo ano, antes de integrar o Conselho Nacional da dos Direitos da Mulher, em Brasília, Sueli ajudou a fundar a organização não governamental Geledés – Instituto da Mulher Negra, primeira organização negra e feminista de São Paulo.
O Instituto desenvolve um trabalho na área de saúde, política e jurídica de referência nacional, em relação à melhoria da situação geral do negro no país, em especial, da mulher negra. Sueli é também a responsável pelo Programa de Direitos Humanos – SOS Racismo, braço jurídico do Geledés, que oferece assistência legal gratuita a vítimas de discriminação racial em São Paulo. Além disso, promove campanhas de proteção da imagem do negro nos meios de comunicação e funciona como um centro de informações sobre o tema.
A atuação de Sulei colaborou de maneira decisiva para o estabelecimento de uma ponte entre as questões femininas e étnicas. E, como resultado de uma iniciativa do Geledés, em 1990, pela primeira vez no país, o Sistema Unificado de Saúde, SUS, do município de São Paulo passou a registrar em 1990 o quesito cor nas fichas de entrada do paciente.
Convidada pelo governo federal, através do Ministério da Justiça, Sueli colaborou, em 1996, para a redação do capítulo referente aos negros no Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado em 1996. Um ano antes, 1995, já havia contribuido para a elaboração das metas do Grupo de Trabalho Interministerial que determinou políticas para a valorização da população negra no país.
Um importante reconhecimento a seu trabalho ocorreu em 2003, quando recebeu o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, instituído pela Mesa do Senado Federal em 2001, como homenagem as mulheres brasileiras que tenham se destacado na defesa dos direitos femininos e em questões de gênero.
Sueli, que também é uma das fundadoras da Articulação de Mulheres negras Brasileiras, é hoje uma referência nacional quando se pensa a questão do feminismo e do racismo no país.