Maria Renotte (1852 – 1942)

  • Volume 2
  • Século: XIX
  • Estado: Estrangeira
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Educadora, médica e sufragista

Descrição:

Maria Renotte (1852 – 1942)

Educadora, médica e sufragista.

Nascida em Liége, na Bélgica, concluiu o magistério em Paris e, em 1878 chegou ao Brasil para trabalhar como governanta. Contratada algum tempo depois como professora do Colégio Piracicabano, em Piracicaba (SP), fundado pela missionária metodista Martha Watts, desenvolveu uma pedagogia pouco comum na época, sobretudo em instituições escolares destinada a moças: ensinava matérias científicas e, para isso, valia-se de jornais e revistas. Era também colaboradora de A Família, publicação feminista dirigida por Josefina Álvares de Azevedo e editada por brasileiras, que denunciavam as situações de injustiça e opressão comuns às mulheres de então.

Em 1892, aos 40 anos, conclui o curso de medicina nos Estados Unidos com especialização em Paris. Em 1895, para que pudesse validar seu diploma no Brasil, defendeu na Universidade Nacional, no Rio de Janeiro, tese na qual denunciava os prejuízos à saúde da mulher causados pelas exigências da moda, como o uso de espartilhos e ainda, a irresponsabilidade dos médicos homens, que mantinham as mulheres em estado de total ignorância em relação a seus corpos.

A partir de então, sua trajetória na área da saúde foi ininterrupta: Assumiu a direção da Maternidade de São Paulo, implantando novo atendimento às gestantes e, enviada a Europa, pela Sociedade de Medicina e Cirurgia, teve como missão buscar informações para organizar a Cruz Vermelha no Brasil, o que concretizou em 1915, tornando-se sua primeira presidente.

Embora fosse evangélica, atuou na Clínica Cirúrgica da Enfermaria de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia, ao lado de Arnaldo Vieira de Carvalho, um dos mais renomados médicos da época. Chama atenção esse fato e enfatiza o reconhecimento da competência de Maria Renotte, pois a instituição tradicionalmente rejeitava fiéis de outras religiões em seus quadros. Ainda na Santa Casa implantou, em 1914, a primeira turma da escola de formação de enfermeiras no país, da qual foi também professora. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914/1918) ofereceu um curso especial de preparação para voluntárias.

Apesar de intensa atuação, Maria Renotte preocupava-se também com a precária situação da saúde infantil no país, que resultava em elevada taxa de mortalidade. No início da década de 1910, iniciou duas campanhas, ambas destinadas à população de baixo poder aquisitivo. A primeira visava à instalação da Casa do Convalescente. A segunda, que buscou a arrecadação de fundos junto a elite paulistana e, ao mesmo tempo, mobilizar os 176 mil alunos/ matriculados nas escolas públicas, para que doassem um tostão por mês, visava a construção de um hospital. Ao final dessa mobilização, com os nove mil e quinhentos réis arrecadados e sob a direção de Ramos de Azevedo, a construção do Hospital de Crianças, no bairro de Heliópolis, foi iniciada em terreno igualmente doado. Inaugurado em 1918, funcionou até 1982.

A militância em defesa das mulheres, contudo, não foi esquecida e, aos 70 anos, em 1922, juntou-se à luta pelo voto feminino, sendo eleita vice-presidente da Aliança Paulista pelo Sufrágio Feminino. Aos 83 anos retornou à cidade de Piracicaba, para homenagem concedida pelo Colégio Piracicabano. Na ocasião doou à instituição, a medalha da Cruz do Mérito, concedida pela Alemanha, por seus esforços humanitários durante o período da primeira Guerra Mundial.

Ao falecer, em 1942, em São Paulo, cega e sem recursos, sobrevivia da humilde pensão concedida, em 1938, pelo governo do estado.