Maria José Jaime (Bizeh) (1941- 2007)

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: GO
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Sócia-fundadora do Inesc, historiadora, militante em defesa dos direitos humanos e ex-exilada política.

Descrição:

Nascida em 1941, filha de Maria do Rosário Roriz Jaime e José Sisenado Jaime, era natural de Silvânia, distante 80 km da capital, Goiânia (GO), para onde se mudou ainda criança. Bizeh, como era carinhosamente chamada, foi aluna do Externato São José e mais adiante do Instituto de Educação de Goiás.
Ainda estudante do curso de História e Geografia na Universidade Católica de Goiás (UCG), na década de 1960, ministrava aulas sobre formação econômica no Brasil, tendo sido mestra no curso clássico de ilustres brasileiros, como Celso Furtado, Caio Prado Junior e Nelson Werneck Sodré.
Na ocasião passou a atuar como militante da juventude católica, envolvendo-se na Ação Popular-AP, movimento surgido em 1963, no seio da igreja. Anos depois, com outro perfil político e reunindo militantes de diversas tendências, a Ação Popular patrocinou, em 1969, para Bizeh e um grupo formado por mais dez pessoas, um curso na China comunista.
A mudança para o Rio de Janeiro ocorreu após a conclusão da graduação. Sua intenção era fazer pós-graduação na Faculdade Nacional de Filosofia, o que, entretanto, não ocorreu por haver se envolvido com o trabalho de assessoria a Vinicius Caldeira Brant, presidente da União Nacional dos Estudantes. Sua especialização em História do Brasil, pela Universidade de São Paulo- USP ocorreria apenas em 1967, onde estudou com Sérgio Buarque de Hollanda.
Perseguida pelo regime militar viveu na clandestinidade entre 1966 até 1971, quando se exilou no Chile, país onde também atuou em defesa dos direitos humanos. Sobre esse período da vida, poucos dias antes de falecer escreveu um texto, no qual recordava o duro período imposto aos chilenos e aos estrangeiros, que como ela, combateram a queda de Salvador Allende e a chegada ao poder da ditadura do general Pinochet.
Também no Peru e Argentina atuou na clandestinidade. Nesse último país fez mestrado em Ciências Políticas e Sociais, na Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais- Flacso, concluído em 1976.
Após 12 anos no exterior, Bizeh retornou ao Brasil em 1979. A anistia à condenação de cinco anos de prisão e dez de cassação dos direitos políticos, havia sido concedida pelo Superior Tribunal Federal em outubro de 1978. Durante o período de clandestinidade, as adversidades, perseguições, prisões e duas tentativas de sequestro por parte do grupo paramilitar chefiado pelo delegado Fleury lhe causaram sérios problemas de saúde.
Ainda no segundo semestre de 1979, apoiada por alguns amigos/as e companheiros/as do Centro Brasil Democrático – Cebrade, onde atuava politicamente contra a ditadura e pela Anistia, fundou o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Anos depois explicaria que o surgimento do Inesc foi consequência de sua decisão de permanecer trabalhando na área político-social sem, entretanto, vincular-se a partidos políticos. Motivou-a também a precariedade das assessorias disponíveis a deputados e senadores, que pode observar a partir de visitas realizadas ao Congresso Nacional. Daí, desde o princípio, a preocupação que o Instituto não se transformasse em uma empresa, mas sim em uma instituição prestadora de serviços à sociedade.
Na prática, Bizeh procurava parlamentares que se opunham à ditadura e buscava convencê-los da necessidade de trabalhar em conjunto com o Inesc, que oferecia uma assessoria política e técnica, que ia desde pequenos discursos até aos grandes projetos de lei, pareceres e estudos.
Não é difícil imaginar as dificuldades e preconceitos enfrentados por uma mulher, dentro de um universo então majoritariamente masculino. Em entrevista concedida em 1999, assim Bizeh relembrou o processo vivido inicialmente: " (…) alguns se sentiam na obrigação de dar primeiro uma cantada. E como(…) não funcionava começava a discussão política. Era uma situação de machismo, extremamente constrangedora(….) tive de encarar isso e não desistir(…)".
A atuação do Inesc passou por diferentes e importantes questões nacionais: indígenas, seringueiros e a processo de construção da Constituição Brasileira de 1988. Em 1992, mais uma vez, articulando diferentes setores e segmentos da sociedade civil, o instituto teve uma marcante atuação no processo de impeachment contra Fernando Collor e pela defesa da ética na política. Bizeh também esteve à frente do movimento que resultou na Campanha Nacional Contra a Miséria e a Fome, encabeçada por Betinho.
Ao falecer em 2007, deixou um importante testemunho em defesa dos direitos humanos e de lutas pela liberdade e justiça. Bizeh também se envolveu com questões relacionadas aos meninos e meninas de rua, à diversidade sexual e ao feminismo.
Dentre as homenagens que recebeu destaca-se em 2008 o lançamento, pelo Inesc, do vídeo batizado com seu próprio nome e que reúne depoimentos de pessoas que a acompanharam sua trajetória pessoal, social e política.