- Volume 2
- Século: XX
- Estado: RJ
- Etnia: Branca
- Atividade: Pioneira da Aviação Comercial Brasileira.
Descrição:
Lucy Lúpia Pinel Balthazar Alves de Pinho
(1932- )
Pioneira da Aviação Comercial Brasileira.
Carioca do Grajaú, bairro do Rio de Janeiro, Lucy Lúpia é filha de Edmundo Pereira Balthazar e Martinha Pinel Balthazar. Educada em um colégio católico para meninas de classe média, Lucy, a seguir, ingressou na Faculdade Federal de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A trineta do Dr. Philippe Pinel, médico francês pioneiro no tratamento de problemas mentais, apaixonou-se definitivamente pela aviação em 1967, aos 36 anos, ao acompanhar o marido no curso para piloto privado realizado no aeroporto de Nova Iguaçu (RJ).
Das três mulheres, na ocasião, inscritas no curso de pilotagem, apenas Lucy prosseguiu. A decisão que não o faria apenas por esporte, mas sim, para profissionalizar-se, foi cumprida. Sua formação incluiu a parte teórica e os exames de saúde realizados pelo Ministério da Aeronáutica. Em três meses estava com o brevê na mão e começou a enfrentar os primeiros preconceitos.
Seus pais, que souberam apenas após a conclusão do curso, apoiaram e incentivaram a decisão da filha.
Para sobreviver, além de Instrutora de Pilotagem Elementar no mesmo Aeroclube de Nova Iguaçu, onde simultaneamente aprimorava sua formação, acumulando horas de vôo e submetendo-se aos exames da Aeronáutica, durante anos atuou como "free-lancer" em várias cidades e empresas pequenas.
Lucy era a co-piloto, auxiliando comandantes em vôos não visuais e noturnos. Sua primeira contratação ocorreu em 1973. Realizou ainda o curso oferecido pela Embraer para habilitação ao avião Bandeirante, de fabricação nacional.
Posteriormente, submeteu-se à avaliação e voou como comandante e acompanhada por co-piloto. Transferiu-se então para São Paulo, em função de um mercado com maior oferta de trabalho.
Se Lucy recebeu apoio de muitos colegas, não foram poucos os preconceitos que precisou enfrentar como pioneira. Em seu livro Eu Quero Voar – o retrato do preconceito (1979), destaca, entre outros, o argumento de algumas empresas, como aquele em que sairia caro contratá-la, porque seria necessário pagar por um outro quarto que não o oferecido aos comandantes homens. Ou ainda, que sua presença no avião provocaria ciúmes nas esposas dos comandantes. Isso sem esquecer o argumento de que as pessoas teriam medo ao entrar em um avião e dar de cara com uma mulher na cabine de comando. No total Lucy publicou três livros com sua saga.
A própria obtenção da licença para piloto de linha aérea foi uma difícil conquista, como relataria Lucy anos depois. Após completar as horas exigidas pela legislação e fazer a prova teórica para piloto de linha aérea submeteu-se a novo exame de saúde. Aprovada, recebeu como era costume, um cartão provisório, que lhe garantia o direito de em um período de dois anos, prestar exame prático em um avião. Só que a aeronáutica mudou a legislação e Lucy recebeu uma licença de Piloto Comercial Sênior, ficando assim impedida de assumir grandes aviões.
Indignada, denunciou seu caso à imprensa e recorreu resolveu cursar Direito, formando-se apenas em 1984. Seus constantes requerimentos ao Departamento de Aviação Civil (DAC) eram indeferidos até que, vinte e quatro anos depois, em 2000, finalmente recebeu pelos correios a tão desejada carteira, retroativa a 1976.
Mais que fazer justiça, a persistência de Lucy lhe garantiu a primazia de mulher piloto da aviação comercial brasileira e ainda, na América Latina, segundo " Conquistadors of the Sky", de Dan Hagedorn, publicado em 1999.