Leocádia Felizardo Prestes (1874 – 1943)

  • Volume 2
  • Século: XIX
  • Estado: RS
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Ativista Política que enfrentou a Ditadura Vargas e o Nazismo.

Descrição:

Leocádia Felizardo Prestes (1874- 1943)

Ativista Política que enfrentou a Ditadura Vargas e o Nazismo.

Nascida em Porto Alegre (RS), Leocádia Felizardo Prestes era filha de Ermelinda Ferreira de Almeida, descendente da aristocracia portuguesa e de Joaquim José Felizardo, abastado comerciante.
Com os pais aprendeu a valorizar e a lutar pelos ideais de justiça social, ao mesmo tempo em que recebia a rígida educação tradicional de seu tempo destinada às meninas: aprendizado de idiomas, piano, pintura, canto e declamação.
Adolescente interessava-se em acompanhar os jornais da Corte, fato pouco comum para as moças. A contragosto dos pais formou-se professora e em várias ocasiões, expressou a eles seu desejo de tornar-se professora de escola pública, o que não lhe foi permitido.
Em 1896, por amor, casou-se com Antônio Pereira Prestes, engenheiro militar e ex-aluno de Benjamim Constant, na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. O convívio com o marido, adepto do positivismo e que, ainda cadete, participara da Proclamação da República permitiu a Leocádia ampliar seu conhecimento do mundo, bem como, o interesse pela política. Dentre as historias contadas, anos mais tarde, aos filhos, estariam aquelas sobre a ansiedade experimentada pelo casal durante a Guerra dos Canudos.
O falecimento do marido colocou-a e aos cinco filhos em difícil situação financeira. Na luta pela sobrevivência, deu aulas de idioma, foi modista e costureira até que, em 1915, conseguiu uma nomeação para atuar como professora em escolas públicas.
Como professora durante quinze anos, até 1930, Leocádia atuou em cursos noturnos voltados a trabalhadores (as), em escolas do subúrbio do Rio de Janeiro freqüentemente localizadas no alto dos morros. Travou assim, contato com a dura realidade enfrentada pelas camadas mais empobrecidas da sociedade brasileira, aumentando ainda mais sua indignação contra a injustiça social.
Na educação dos filhos, além do pão de cada dia, Leocádia Prestes preocupou-se sempre em alimentá-los também, com o respeito ao próximo, a responsabilidade para com o trabalho e o compromisso pessoal de enfrentar injustiças. Não por acaso, em 1910, adepta da Campanha Civilista de Rui Barbosa, participava dos comícios levando sempre Luiz Carlos Prestes, o filho mais velho.
Assim, em 1922, quando Luiz Carlos, já oficial do Exército, se envolve na revolta promovida por alguns oficiais contra o governo, é apoiado pela mãe que, inclusive, aconselha-o a não desistir diante do fracasso do movimento.
Durante o levante de 1924, liderado por Prestes, que se espalhou pelo interior do país e durariam até 1927, os anos foram difíceis. As noticias que chegavam do interior vinham apenas dos jornais que apoiavam o governo e eram as piores possíveis. Por sua coragem, apoio ao filho e aos demais participantes, Leocádia Prestes tornou-se uma líder das famílias atingidas.
Em 1930, com o filho novamente perseguido pelo governo, entendeu que o mesmo não poderia retornar ao país. Deixando tudo para trás, rumou para a Argentina com as quatro filhas e ficou ao lado de Luiz. Período difícil.
Ameaçado de morte pelo governo argentino, Luiz Carlos teve que fugir para o Uruguai. Leocádia – que não mais pisaria no Brasil-, e as filhas, enfrentaram muitas dificuldades para sobreviver em Buenos Aires, onde permaneceram e se aproximaram do marxismo. Em 1931, Leocádia e a família se juntam ao filho na União Soviética.
Cinco anos depois, em 1936, com a prisão de Luiz Carlos Prestes- que vivia clandestinamente no Brasil-, e sua mulher Olga Benário, Leocádia é escolhida para encabeçar uma campanha política em defesa da vida do filho e de todos os presos políticos brasileiros. Apesar das dificuldades e da responsabilidade da missão, aos 62 anos, parte de Moscou acompanhada da filha Lygia e percorre os principais países europeus denunciando e pedindo apoio a sua causa.
Os comícios, conferências de imprensa, visitas a jornais, contatos com diferentes sindicatos, partidos políticos, parlamentos e chefes de governos deram resultado. De diferentes partes do mundo, o governo brasileiro recebia milhares de protestos. Em pouco tempo Leocádia vê surgir Comitês de defesa de Prestes nos Estados Unidos, na América Latina, na Austrália e na Nova Zelândia.
Com a extradição da nora grávida, Olga Benário, para a Alemanha Nazista, Leocádia e a filha vão à Genebra pedir ajuda à Cruz Vermelha Internacional, ação que permitiu receber em 1937, notícias sobre o nascimento da neta Anita.
Leocádia esteve ainda, por três vezes, na Alemanha, onde exigiu da Gestapo a libertação da nora e da neta. Também delegações de vários países foram a Berlim interceder pela libertação. Leocádia recebeu Anita nos braços, então com dois anos, apenas em 1938. Não conseguiu, contudo, salvar Olga, executada na câmara de gás do campo de concentração de Ravensbrück, em 1942.
Com a chegada da guerra, Leocádia e a neta se exilam no México, de onde prossegue a campanha em favor do filho e companheiros (as). Além de haver perdido contato com as filhas que ficaram em Moscou, preocupa-a também a expansão nazista na Europa.
Em junho de 1943, Leocádia Prestes falece sem assistir ao final da guerra e à libertação do filho. Seu enterro foi acompanhado por uma multidão e seu caixão coberto pela bandeira brasileira. Uma guarda de honra levou bandeiras das nações unidas que lutavam contra o nazismo. Além do discurso de representantes de vários países latino americanos, o poeta chileno Pablo Neruda leu o poema Dura Elegia, escrito em homenagem a Leocádia.