Guta (1947 – 2009)

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: MG
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Militante política, defensora dos Direitos Humanos

Descrição:

Maria Augusta Carneiro Ribeiro, a Guta, como gostava de ser chamada, dizia haver nascido á beira da estrada. O pai engenheiro trabalhava na construção da estrada de ferro Minas-Bahia. Em 25 de fevereiro de 1947, Guta nasceu em Montes Claros (MG).
Suas origens eram, contudo, baianas e herdadas de mulheres fortes. A mãe, Maria Augusta e a bisavó atuaram em causas sociais. O pai, comunista nos tempos de estudante, só abandonou a militância após o casamento.
Ao transferir-se com a família para o Rio de Janeiro, na década de 1950, Guta foi matriculada no tradicional colégio Anglo-brasileiro, não se adaptando, entretanto, como anos depois relataria ao Projeto Memória Estudantil, em 2005, à rotina da instituição. Constatando o pouco empenho da filha, os pais a transferiram para o Colégio Santa Úrsula, administrado por freiras.
No novo colégio, Guta acabou eleita para o grêmio e passou a fazer parte da Juventude Estudantil Católica. Por esse envolvimento, na ocasião do golpe militar de 1964 foi, como dizia aos amigos/as, “convidada a se retirar” da escola. Enviada aos Estudos Unidos pela família, lá permaneceu por um ano.
O retorno ao Brasil, acompanhado da militância política, se envolveu com o grupo Dissidência Comunista. Na faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro transformou-se presidente do centro acadêmico.
Por ocasião do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968, ocorrido em Ibiúna (SP), foi presa. Aliás, por duas vezes foi colocada atrás das grades. Numa dela, aos 22 anos, experimentou a tortura praticada pelos repressores da ditadura militar, na qual teve os dentes quebrados por murros e, banida do país, foi enviada ao México.
Sobre esse episódio, que envolveu a troca de prisioneiros políticos pelo embaixador americano Charles Elbrick, então sequestrado pelo MR-8, dentre os 15 algemados, Guta era a única mulher. Além da foto do grupo diante do avião da FAB, no qual embarcariam para o exílio, e que se tornou mundialmente conhecida, sobrevive a história de que caso a polícia conseguisse encontrar o cativeiro do embaixador, antes que o avião chegasse ao destino, os presos – e Guta- seriam jogados no oceano atlântico.
Após passar pelo México rumou para Cuba, onde permaneceu por dois anos realizando treinamento militar. Sua intenção, como contava anos depois, era retornar ao país e continuar combatendo a ditadura. Não conseguindo concretizar a idéia exilou-se no Chile, onde esteve até 1979, quando na condição de anistiada política retornou ao Brasil.
Consequência do passado militante foi grande a dificuldade para conseguir trabalho no Rio de Janeiro. A situação mudou apenas, quando ingressou por concurso público para a companhia Vale do Rio Doce.
Convidada para ocupar o cargo de ouvidora-geral da Petrobrás, em 2003, Guta pode retomar, agora por outros caminhos, sua luta em defesa dos direitos humanos, da política de gênero e étnica racial. E o ponto de partida foi a própria empresa, na qual ao longo de 49 anos as funcionárias eram identificadas no masculino: geólogas assinavam como geólogos, enquanto as secretárias portavam crachás onde se lia secretários. A maior mudança foi, contudo, externa. Guta e a equipe de voluntariado corporativo, por ela coordenada, implantaram e consolidaram a atuação responsável e social da gigante brasileira exploradora de petróleo. Não era raro vê-la se emocionar ao falar dessa etapa de sua vida profissional, afirmam amigos/as.
Faleceu aos 62 anos, em 15 de maio de 2009, consequência de complicações ocasionadas por um acidente de carro sofrido em abril do mesmo ano, em Búzios (RJ). Exemplo de uma vida dedicada à luta pela liberdade e democracia, Maria Augusta Carneiro, a Guta, deixa para os três filhos, parentes, amigos/as e a todos os/as brasileiros/as, um belo e respeitável exemplo feminino para construção da história democrática do país.