Gertrudes Maria (século XIX)

  • Volume 2
  • Século: XIX
  • Estado: PB
  • Etnia: Negra
  • Atividade: Negra alforriada que recorreu aos tribunais para manter sua liberdade.

Descrição:

Gertrudes Maria (século XIX)

Negra alforriada que recorreu aos tribunais para manter sua liberdade.

Em um universo social predominantemente branco e masculino, desfavorável à mulher, sobretudo, aos/as negros/as e escravizadas/os, Gertrudes Maria, negra alforriada sob condição, que vivia na capital da Paraíba na década de 1820, entrou na justiça contra dois credores de seu senhor, que pediam sua comercialização em troca do pagamento de dívidas.

O processo teve inicio em 08 de julho de 1828. Através de seu procurador, Gertrudes argumentou que não poderia ser penhorada desde 27 de janeiro de 1826, data em que havia pago 100$000 ao dono. Sua carta de liberdade estipulava que estaria completamente livre, quando a esposa de seu proprietário viesse a falecer.

Em 1841, após inúmeras audiências, inclusive, com a extinção da ouvidoria onde corria o processo, ela e os dois filhos foram presos, como resultado de nova ação movida pelos interessados em seu leilão. As alegações para a decisão da justiça incluíam o fato que, além do não pagamento da dívida por seu proprietário, Gertrudes Maria não havia sido cuidada por seu depositário, representante legal e guardião designado pela justiça em 1828, e como conseqüência, se tornara mãe de duas crianças geradas em relação de concubinato com um índio.

Mesmo encarcerada continuou a batalha. Temia ainda que suas crianças também pudessem ser “ganhas” pelos que moviam a ação. Seu pedido de um novo depositário foi aceito e em dezembro de 1841 saiu da cadeia pública.

Gertrudes Maria deu continuidade ao processo, através de seu antigo advogado, com encaminhamento ao órgão superior em Pernambuco. Os autos, segundo registros históricos existentes, datam de maio de 1842.

Embora não existam indicações sobre o desfecho da situação, a luta da negra alforriada e pobre, Gertrudes Maria, contra o sistema escravagista brasileiro e ao silêncio imposto às mulheres, merece registro na história negra e feminina do país.