Cassandra Rios (1932 – )

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: SP
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Escritora

Descrição:

Cassandra Rios era o pseudônimo de Odete Rios. Nasceu no bairro Perdizes em São Paulo em 1932. Cassandra é considerada a pioneira da literatura lésbica no Brasil. Embora perseguida pela censura, foi uma das autoras que mais vendeu livro entre as décadas de 1950 e 70. Suas obras, embora satanizada por alguns seguimentos da sociedade e criticada por intelectuais, chegou a vender por ano 300 mil exemplares. O que era considerado número surpreendente para a época. Esta cifra leva a supor que tenha transcendido ao público lésbico e feminino.

Sua estréia na literatura foi com o livro “Volúpia do pecada” no ano de 1948, então com apenas 16 anos de idade. Sem recursos próprios, sua mãe lhe emprestou o dinheiro para publicação. Esta obra lhe rendeu o pioneirismo de ser considerado primeiro romance de temática lésbica a alcançar repercussão nacional e a colocou como uma das autoras que mais vendeu livros na história da literatura brasileira.

Escreveu em torno de 40 livros, dentre eles: Carne em delírio, Nicoletta Ninfeta, Crime de honra, Uma mulher diferente, A lua escondida, As traças, A tara, Tessa a gata, A paranóica, Breve história de Fábia e MezzAmaro. Todos com altos índices de vendagem. Seus livros eram lidos as escondidas. Quanto mais era censurada, mais despertava curiosidade pelo prazer do proibido, pelo prazer da leitura e pelo prazer da descoberta.

Seus livros misturavam alquimicamente, relações lésbicas, transformismo, sincretismo religioso, política, relações de poder, desejo feminino, negócios e religião. Suas obras transbordam vida. Em um período em que o prazer feminino não era considerado um direito, ousou desvelar e revela-los de forma aberta e sem falsos pudores. Talvez por isto tenha sido perseguida e tão censurada.

Uma das características da narrativa de Cassandra é o fato de suas personagens refletirem sobre si, sobre a identidade lésbica com todas as suas contradições. Tendo em vista que essa identidade está inserida em uma rede de discursos, Cassandra disputava sobretudo a construção desta identidade. Suas obras sinalizam para uma mudança de comportamento; apresentava um quadro de seu tempo, ao mesmo tempo em que, introduzia elementos de uma transformação histórica.

Os livros de Cassandra surgiram em um cenário, pouco propício para este tipo de discussão. Ao abordar desejo e prazer entre mulheres, o erotismo, os conflitos internos advindo desta experiência e das cobranças que a sociedade impingia, revelou um universo que era silenciado. Essa ousadia lhe valeu perseguições tanto dos que apoiavam a ditadura quanto dos que a combatiam, mas, sobretudo lhe valeu um estrondoso sucesso editorial; tendo suas publicações disputadas nas livrarias durante quase 30 anos.

Os títulos de seus livros eram uma atração a parte: chamativos e insinuantes. Suas obras literalmente seduziam um número expressivo de leitores, porém foi ignorada pela crítica por ser considerada pornográfica e por seu estilo popular. Seus textos eram considerados marginais. Eram lidos as escondidas. A forma como a homossexualidade era tratada antes das obras de Cassandra era limitada ao pecado, patologia e o crime. Muito embora, estes elementos também fizessem parte de suas obras, ocupavam outra categoria analítica; eram apresentados como forma de preconceito, que suas personagens enfrentavam ao escolher viver sua sexualidade.

Cassandra rompeu padrões ao apresenta-se de smoking em diversas festas onde compareciam governadores e figuras de renome no cenário político e cultural. Também era frequentemente convidada a participar de diversos programas de TV.

Seus primeiros romances adaptados para o cinema foram “A paranóica” sob o título de “Ariella” (considerado sucesso de bilheteria) e “Tessa, a gata” ambos, dirigidos por John Herbert. Outro romance adaptado para o cinema foi “A mulher, serpente e a flor” – com roteiro de Benedito Ruy Barbosa e dirigido por J. Marreco.
Nos anos 1980, Cassandra continuava a escrever, porém não atinge o sucesso anterior. Tentou carreira política, mas não conseguiu se eleger. No final da vida trabalhava como revisora de livros e dedicava-se a pintura.

Curiosamente no dia 8 de março de 2002 – Dia Internacional da Mulher – Morreu Cassandra Rios, a mulher que era considerada a mais polêmica escritora brasileira. Faleceu de câncer, aos 70 anos de idade, pouco antes de lançar oficialmente sua autobiografia: “Mezzamaro, flores e cassis”, onde revela alguns insultos que recebidos ao longo de sua trajetória de escritora: “demônio das letras, “papisa do homossexualismo”, “uma dama de capa e espada”. Mas revela, sobretudo, o fascínio e o medo que exercia sobre seus leitores e críticos.