Anita Leocádia Prestes (1936 – )

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: Estrangeira
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Militante Política e Historiadora

Descrição:

Anita Leocádia Prestes (1936 – )
Militante Política e Historiadora

Anita Leocádia Prestes, filha do líder comunista Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, nasceu no dia 27 de novembro de 1936, em Barnimstrasse, prisão destinada às mulheres na Alemanha Nazista, para onde sua mãe, judia alemã e comunista, foi levada após ser deportada do Brasil, por Getúlio Vargas, aos sete meses de gravidez.

Da companhia materna desfrutou apenas até os catorze meses quando a avó, Leocádia Prestes, conseguiu resgatá-la, após intensa campanha internacional. Foi então com a avó e a tia Lygia, a quem considera como segunda mãe, para o exílio no México. Olga Benário morreria em abril de 1942, assassinada em uma câmara de gás, no campo da morte de Bernburg. Como lembranças da mãe, apenas algumas poucas cartas, escritas do cativeiro ao marido Prestes, falando sobre a imensa alegria que a filha com seus olhos azuis brilhantes lhe dava e reafirmando a esperança que fosse uma menina feliz e sempre orgulhosa da luta dos pais.

Em 1945, após o fim do Estado Novo, então aos nove anos, Anita chegou ao Brasil e pode, finalmente, conhecer o pai, liberto após nove anos de prisão, na qual permaneceu praticamente incomunicável. Mesma oportunidade não teve a avó Leocádia, que em 1942 falece no exílio.

Sempre que indagada a respeito das tragédias que marcaram seu nascimento e infância, Anita destaca que, ao contrario de uma pessoa amarga e descrente da humanidade, o exemplo de seus pais, bem como, a criação recebida no interior de uma família comunista, a forjaram uma mulher forte, que acredita valer a pena lutar por um mundo melhor e jamais compactuar com a injustiça.
Professora doutora do Departamento de História do Brasil na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e historiadora, Anita iniciou sua trajetória acadêmica no Brasil, onde concluiu a graduação em Química Industrial (1964) e, no período da ditadura militar, obteve o titulo de Mestre em Química Orgânica (1966).
Perseguida pelo regime militar e indiciada por subversão (1972), foi condenada e julgada à revelia, sendo condenada a quatro anos e meio de detenção. Escapou da prisão por haver se exilado, no inicio dos anos 1970, na extinta União Soviética (URSS), onde recebeu o título de doutora em Economia e Filosofia pelo Instituto de Ciências Sociais de Moscou (1975). Foi Anistiada em 1979, como conseqüência da primeira Lei de Anistia no Brasil.
Em 1990 recebeu o título de Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), tornando-se por concurso público, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992), até aposentar-se em 2007.

Em 2004 abriu mão de indenização de R$ 100 mil (cem mil reais), concedida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, referentes ao tempo em que permaneceu exilada, doando-a a uma instituição de combate ao câncer. Anita optou por permanecer apenas, com o direito de incorporar o período ao tempo de aposentadoria. Reação semelhante manifestou diante da indenização concedida a seu pai, Luiz Carlos Prestes, recusando a parte que lhe caberia como filha.

Historiadora, palestrante no Brasil e no exterior, Anita organizou (2004) na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, uma exposição em homenagem aos 80 anos da Coluna Prestes. Na ocasião relatou haver tido a oportunidade de apresentar ao pai, falecido em 1990, sua tese de doutorado sobre esse movimento histórico.

Quatro anos depois (2008), participou das homenagens de 24 anos da Galeria Olga Benário, em Berlim, criada pela Associação dos Perseguidos pelo Regime Nazista e que comemorava o centenário de nascimento de sua mãe. Anita inaugurou a “pedra de tropeço”, placa colocada na calçada dos locais onde moraram vítimas do holocausto.

Autora de diversos livros e premiada em Cuba pela publicação de A Coluna Prestes, Anita segue na defesa da liberdade e no resgate de parte da historia do país. Justamente essa esperança no futuro foi o que, comenta-se, teria sentido falta após assistir à cena de execução de sua mãe na câmara de gás, retratada no filme Olga. Para Anita, não se conseguiu transmitir ali, a mensagem que a esperança persiste e que, apesar dos acontecimentos, a luta dos pais trouxe vitórias.